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terça-feira, 28 de outubro de 2014

AS LANTERNINHAS


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foto de Lara Rocha 

        Era uma vez um coelho que foi passear, por vários sítios, reencontrou velhos amigos, e fez novos amigos, fartou-se de conversar, e cantar, rir e brincar, correr, saltar, escorregar, cair e levantar-se, e andar de baloiço. Estava tão feliz que se distraiu com a hora.
        Quando reparou, estava noite cerrada. O pobre coelho ficou com medo, mas fez-se de forte e corajoso, à frente dos amigos. Um deles ofereceu-lhe uma lanterninha de ferro branca, com uma luz feita a partir de várias velas para iluminar o caminho e não cair em buracos.
        Lá foi ele, com os seus olhos grandes, bem abertos, a olhar para todo o lado, e estremecia sempre que ouvia um barulho, virava a lanterna e tentava identificar onde era o barulho…seria algum bicho feroz? Talvez não…deveriam ser bichos que mexiam entre as folhas, tão assustados como ele.
        O coelho acelerou o passo, e quanto mais andava, mais assustado ficava. De repente…ouve uns passos grandes. Pára, quase congelado de medo, e quase sem ar.
        Ouve um grande estridente uivo bem perto dele. Olha para trás, e quando vê um lobo com a sua bocarra aberta e uns dentes que pareciam pregos ou espadas, de tão aguçados, o coelho tenta distrair o lobo, mas este não se deixa levar pela sedução do coelho, e fica ainda mais feroz.
        O coelho convenceu-se de que não havia nada a fazer contra aquele lobo enorme…a não ser…fugir o mais rápido que pudesse, e a segurar na lanterna.
        O coelho enche os pulmões de ar e desata a correr. Pelo caminho a lanterna apaga-se, e fica escuro. O coelho para de correr.

- Não acredito! E agora? Não sei onde é a minha casa…!

        O lobo que parecia um monstro, aos olhos do coelho, afinal não era assim tão grande, nem tão mau. Estava bem atrás do coelho.

- Não te preocupes… - Diz o lobo

        O coelho cai na relva, cansado e gelado de susto. O lobo olha para ele, cheira-o e pergunta:

- Porque estás com tanto medo de mim?

- Está bem…come-me! Estou perdido! – Suspira o coelho

- Não te vou comer…estou a cheirar-te para te levar a casa.

- A sério? – Pergunta o coelho desconfiado

- Sim! – Garante o lobo

- Mas eu não sei onde é! A lanterna que me emprestaram, apagou…agora está tudo escuro!

- Por isso é que te estou a cheirar…para seguir o rasto que deixaste e levar-te a casa.

- Achas que consegues?

- Consigo! Estou treinado para fazer isso. Já levei muita gente a casa, e já encontrei muitos perdidos.

- Áh! Mas tu és um cão?
- Não. Sou um lobo, e cheiro como os cães! Podes confiar em mim!

- Está bem…pode ser que descubras.

- É claro que vou descobrir. Sobe para as minhas costas.

        O coelho está tão cansado, que já não tem medo do lobo…sobe para as suas costas. Os olhos do lobo dão luz, como faróis, e iluminam o caminho, como se fosse quase de dia.

- A lanterna reacendeu? Ou já é de dia? – Pergunta o coelho

- Nem uma coisa, nem outra! São os meus olhos! – Responde o lobo

- Os teus olhos dão luz?

- Dão.

- Áh! Têm velas como as lanternas?

- Não! (ri) É tudo dos meus olhos…é uma característica nossa…de lobos.

- Que linda luz! – Elogia o coelho

- Obrigado. – Diz o lobo vaidoso

        O coelho olha para o lado:

- Espera…acho que estou a conhecer isto!

- Já deves estar perto da tua casa, não?
- Acho que sim.

        O coelho olha melhor:

- Sim! É ali. Em frente. A minha casa!

- O teu cheiro leva-me até aqui! – Diz o lobo

- Sim! Andei por aqui.

        O coelho chega a casa, são e salvo, dá um abraço ao lobo quando desce das suas costas, e convida-o a sentar-se na entrada.

- Espera lobo! Vou buscar alguma coisa para tu comeres e beberes!

- Está bem! Agradeço…mas por favor…não penses que te trouxe a casa, à espera que me desses alguma coisa! – Diz o lobo

        O coelho sorri, vai à cozinha e traz para a mesa de fora coisas para ele e para o lobo comerem e beberem.

- Obrigado. E desculpa ter-te assustado! – Diz o lobo

        Os dois petiscam e conversam alegremente, riem, contam aventuras, brincam e convivem um com o outro até de manhã. Depois desta noite, o lobo e o coelho tornam-se amigos inseparáveis. O lobo é um excelente guarda-costas e uma lanterna ambulante, pois os seus olhos davam luz, e o coelho ajudava o lobo em tudo o que podia e sabia.
        Que linda amizade!


FIM
Lálá
                                           (27/Outubro/2014)

A MENINA DAS TRANÇAS


     
Desenhada por Lara Rocha 

       Era uma vez uma linda menina, que vivia num campo perto da cidade. Andava sempre de um lado para o outro, a pé e a cantarolar, sorria a toda a gente por quem passava, e dizia bom dia, boa tarde ou boa noite a todos.
        Era muito simpática, e às vezes as pessoas mais solitárias agradeciam-lhe, porque ela sentava-se nos bancos dos jardins, a conversar e a fazer rir os mais velhos que estavam sentados com ar triste. Era muito curiosa e fazia sempre muitas perguntas! Também era muito tagarela.
        Outras vezes passeava com o seu cavalo preferido, chamado lanterna…ao seu lado, ou montada nele, os dois conversavam e davam grandes passeios.
        Mas esta menina tinha outra coisa muito especial: uns olhos enormes de cor azul, e os seus cabelos muito compridos, que geralmente andavam presos…mudavam de cor, e faziam mudar as coisas à volta dela.
        Quando usava duas tranças, uma de cada lado, se estava entre árvores, o cabelo ficava com rajadas verdes, amarelas, castanhas, vermelhas, roxas…se passava por flores, o cabelo ganhava todas as cores de cada flor. Se passava em água, ficava com o cabelo azulado, e mudava de acordo com o céu, o tempo, o lugar onde estava.
        Ela mudava, e podia também mudar. Foi o que aconteceu numa manhã de Outono, com céu cinzento e nuvens carregadas. Ela foi para o jardim de um hospital, e abanou as tranças. Delas saíram lindos raios dourados que cobriram as folhas caídas no chão.
        Ela soprou e as folhas douradas brilhantes voaram e entraram pelas janelas dos quartos que estavam abertas. Os doentes desses quartos, seguraram as folhas, e o belo dourado atravessou a pele…ficando curados, e esses levaram as folhas aos outros, que estavam com as janelas fechadas.
        Depois, passou num lar de idosos, onde todos estavam tristes, sacudiu as tranças, e saíram dos seus cabelos, milhares de lindas flores cheias de cor, a rodopiar, delicadas, com fadas a segurar belas, que depois de dançarem nas janelas do lar, espalharam cores, sorrisos, brilhos, beijos e abraços por todas as pessoas. Parecia que nesse momento, todos tinham rejuvenescido e ganho anos de vida…os velhinhos desse lar, saíram todos a sorrir, com um novo brilho no olhar.
Pareciam outra vez crianças, a brincar e a rir com os outros, a atirar folhas, a saltar montinhos de folhas e a cantar com a menina. As borboletas e as fadas juntaram-se e passaram uma manhã em cheio. Os senhores gostaram tanto dela, que ela prometeu voltar ao lar e ao hospital.
Sempre que ela mexia nas tranças alguma coisa de bom acontecia! Mas não precisamos de ter tranças mágicas para ser como a menina, pois não?
Mesmo sem tranças, podemos mudar por completo o dia de alguém! Com um sorriso, um bom dia, um obrigada, um carinho, uma mensagem, um recadinho, uma flor…
Hoje já mexeram nas vossas tranças mágicas imaginárias? Ainda podem fazer…toquem na menina das tranças que há no coração de cada um de vocês e se tornarem o dia de alguém, um bocadinho melhor…como a menina das tranças fazia…saberão que vocês também têm essas tranças mágicas. Procurem-nas ou descubram-nas!
FIM
Lálá

(27/Outubro/2014) 

ESPANTALHOS





         Era uma vez um espantalho que foi construído pelos filhos dos lavradores, e servia para afastar os pássaros. Mas os meninos esqueceram-se que o espantalho tinha de ser feio, e com materiais estranhos para os pássaros não comerem os frutos e os cultivos.
        Fizeram-no mesmo com frutas atraentes: a cabeça era um cabaço estragado, os olhos eram duas ricas maçãs vermelhas, o nariz era uma apetitosa castanha, a boca era um dióspiro. Os seus braços eram feitos de trocos de couves, e as mãos, as folhas da couve. O seu tronco era feito de cachos de uvas, e os seus pés, eram ouriços das castanhas. O cabelo do espantalho era erva.
        Os meninos pensaram que por ele ser diferente e não ser feito de palha, os pássaros não iam gostar dele…iam ter medo. Estavam totalmente enganados! No dia seguinte, nem vestígios do espantalho! Foi todo devorado…da cabeça aos pés.
        Os meninos não queriam acreditar! Então começaram a discutir, a ver de quem era a culpa, e a atirarem de uns para os outros. A mãe de um dos meninos mandou-os calar…e as meninas construíam um espantalho como queriam, os meninos construíam o deles como gostassem mais.
        Todos concordaram e puseram mãos à obra. O espantalho das meninas ficou muito bonito, foi construído com muito bom gosto…os rapazes fizeram um espantalho à pressa, de qualquer maneira, parecia um monstro, ainda pior do que aqueles de um filme de terror.
        Mas foi mesmo esse feio e todo abandalhado que assustou os pássaros, só que este também se tornou amigo deles! E…inimigo das meninas, porque o espantalho dos meninos mandou os bichos comer o espantalho das meninas, que comeram até fartar…tudo era delicioso, e atraente aos pássaros e outros animais. Num instante desapareceu!
        Depois do papo cheio, os animais que devoraram o espantalho das meninas, ainda ficaram a noite toda a conversar alegremente com o espantalho, com muitas gargalhadas, brincadeiras e asneiras.
        De dia, o espantalho dorme, e as meninas constroem outro espantalho…com sal colado numa tábua e apoiado noutra tábua, e para disfarçar pintaram-no. Mais uma vez estava lindo! Mas agora, os que o tentaram comer, magoaram os bicos e as patas para tentar arrancar as pedrinhas de sal e não podiam comê-las porque estavam com tinta. Assim, o espantalho das meninas ficou inteiro.
        Os pássaros queriam vingar-se do espantalho, e tentaram destrui-lo como puderam…de todas as maneiras possíveis: com fogo, com água, com bicadas, com unhadas…e pedras.
        O espantalho gritava, e pedia ajuda. O espantalho das meninas não ajudou. Mas no campo ao lado, havia outro espantalho horroroso, que chamou os bichos.
        Todos largaram aquele espantalho e vão para o outro campo. Mas o espantalho foi mais esperto: para os pássaros não comerem tudo o que ele tinha de bom, disse-lhes para comerem tudo o que quisessem no campo, que ele fingia que não sabia, e que não tinha visto nada.
        Os pássaros e outros animais comeram tudo o que havia nesse campo, e não fizeram mal ao espantalho. Comeram tanto que no dia seguinte de manhã estavam todos deitados no chão, com as barrigas enormes, que não conseguiam voar.
        Os espantalhos desatam a rir, os donos do campo expulsam os pássaros, e atiram-nos para fora, ralham com o espantalho, mas ele não se importa, porque o mais importante era que tinha sido amigo dos pássaros e outros animais que estavam com fome, não lhe tinham feito mal, e tinha safado os outros dois espantalhos de serem comidos.
        Ele estava orgulhoso de si próprio. Mas…a festa acabou, quando os donos do campo contrataram um grupo de homens estátuas, para fazerem de espantalhos, uma vez que os outros não funcionaram.
Os homens estátuas pareciam espantalhos verdadeiros, iguais aos outros, só que estes ainda estavam mais feios com as máscaras, e mexiam de repente, com movimentos rápidos e bruscos. Andavam pelo campo todo e paravam…andavam…davam sapatadas aos pássaros e guinchos arrepiantes, imitavam outros sons que os fazia estremecer.
Os pássaros tiveram mesmo muito medo, fugiram e nunca mais voltaram a esses campos. Destes…até os espantalhos tiveram medo.

FIM
Lálá
(27/Outubro/2014)


O CASTELO DOS GATOS BRANCOS



foto de Lara Rocha 

Era uma vez um castelo abandonado há muitos, muitos anos. Ficava no pico de uma montanha muito alta, onde os seres humanos que viviam na cidade e arredores, nunca tinham conseguido chegar porque o caminho era perigoso. Só os animais tinham facilidade em chegar, graças às suas patas.
        O castelo via-se da cidade, e despertava a imaginação das pessoas, que tentavam imaginar quem viveria lá, se é que vivia alguém. Alguns acreditavam que poderiam viver…fantasmas ou seres misteriosos das histórias que lhes contavam, outros achavam que só haveria ervas daninhas e as paredes…quem sabe, tivessem vivido lá uns reis, mas agora não há nada disso. Mesmo assim, o castelo encantava toda a gente.
        Nos nossos tempos, uma gata de pêlo branco, foi maltratada e escorraçada da casa dos seus donos, quando descobriram que ela ia ter uma ninhada. O pai dos gatinhos era cinzento e branco. Os dois eram muito bonitos.
        A pobre gata percorreu triste e vagarosa a cidade, na esperança que alguém gostasse dela e que a acolhesse, pelo menos para ela ter os seus filhotes.
        Quem olhava para ela tinha pena, mas não podia acolhê-la…ou porque vivia num apartamento, e não tinha condições, ou porque tinha pouco dinheiro, e outras pessoas porque eram alérgicas ao pêlo de gato.
        Uns velhinhos que passeavam pela cidade deram-lhe mimos, comida e bebida, e queriam levá-la para o lar que os acolhia, mas no lar não quiseram ficar com a gatinha.
        Lá continuou a bichinha à procura…triste. Encontra o gato, pai dos filhotes…um vadio, mas sensível e educado…foi por isso que a gatinha se apaixonou.
        Ela contou-lhe que estava à espera de gatinhos, e que tinha sido expulsa e maltratada pelos donos. O gato ficou feliz com os filhos mas não gostou nada de saber que ela foi maltratada e expulsa. Disse à gata que não a ia largar nunca mais.
        Partiram os dois á procura de um lugar onde ficar. Passaram por muitas ruas da cidade, recantos, túneis, pátios, dormiram alguns dias debaixo dos bancos de jardim, outros dias em soleiras das janelas e portas, e em paragens de autocarro. Lá iam arranjando sempre algumas almas caridosas que lhes davam mimos, comida e bebida.
        Mas eles continuaram à procura. Os dois concordavam que a cidade não era um bom sítio para eles, nem para os gatinhos, então decidiram ir para a montanha. Subiram, subiram, subiram…andaram muitos quilómetros e chegaram à grande montanha do castelo arruinado. Estavam muito cansados.

- Gosto deste sítio! – Diz o gato

- Eu também! – Diz a gata

- Não conhecia.

- Nem eu!

- Mas aqui parece-me seguro! E sossegado.

- Sim! Também agora não temos mais para subir.

- Pois não. Só se for…para baixo.

- Aos trambolhões.

- É!
        Os dois riem, instalam-se nas ruínas do castelo, um canto protegido do vento e do frio, e da chuva, muito acolhedor! Enquanto a gata fica a descansar, o gato vai pela montanha à procura de comida, e palas casas. Felizmente, muita gente dá-lhe comida e bebida, e leva para a gata.
        O tempo passa, e os gatos ficam instalados no castelo. A gata tem uma ninhada de oito gatinhos brancos, lindos, de olhos azuis e verdes, pêlo muito branquinho, alguns com manchinhas cinzentas como o pai gato.
        Os dois são uns pais babados, orgulhosos, vaidosos, protectores, cuidadores, atentos e dedicados. Todos são saudáveis e felizes, brincam, correm, rebolam, passeiam, trocam muitos mimos e aprendem a procurar comida.
        Os gatinhos crescem. Num dia de muita chuva, o castelo é invadido por muitas famílias de gatos brancos que vão numa correria louca.

- Por favor… - Pede um gato ofegante

- Desculpem! – Pede outro gato aflito

- Podemos…instalar-nos aqui?

- Só…por esta noite…até…a tempestade passar.

- Claro que sim! – Dizem o gato e a gata

- Fiquem descansados. – Diz o gato

- Fiquem o tempo que for preciso… - Diz a gata

- São família? – Pergunta outra gata

- Somos! – Respondem

- Nós também. – Dizem os gatos em coro

- De onde vem? – Pergunta o gato

- Da cidade! – Respondem todos

- Está impossível lá em baixo…- diz outra gata

- Porquê? – Perguntam os gatos

- Porque está quase tudo debaixo da água. – Descreve uma gata assustada

- É água por todo o lado! – Acrescenta outra gata assustada

- Vimos gatos, cães, pessoas e coisas a afogarem-se, a serem empurrados pela água. – Descreve outra gata assustada

- Mas porque é que isso aconteceu? – Pergunta a gata

- Esta tempestade! – Diz um outro gato

- Se não viéssemos pelo primeiro caminho que nos pareceu ter menos água, tínhamo-nos afogado! – Diz outro gato

- Pois era. – Dizem todos
        Os dois gatos acolhem os outros, dão-lhes de comer e de beber, arranjam-lhes um quarto no castelo e convivem alegremente. Os pequenos tornam-se logo grandes amigos e os crescidos também.
        Nos dias seguintes de tempestade, mais e mais gatos brancos fugiram para esse sítio, e foram ficando. Gostaram tanto uns dos outros que se instalaram todos no castelo, nasceram muitos mais gatinhos, todos brancos e cinzentos.
        Num dia de muito calor, um jovem aventureiro foi com o seu grupo de escalada, subir a montanha até ao castelo que se via da cidade.
        Quando chegaram ao cimo, viram centenas de gatos brancos e cinzentos a vaguear pelo castelo e naquela montanha. Parecia uma comunidade só de gatos brancos do castelo…o castelo era só para eles.
        Os jovens ficaram maravilhados com a paisagem e por ver tantos gatos no mesmo sítio. Fotografaram e na cidade, expuseram as fotos.
        Depois desse dia, muita gente quis ir ver os gatos, e passaram a chamar a essa montanha: a montanha do castelo dos gatos brancos. Os animais conviviam bem com as pessoas, mas às vezes não queriam receber visitas, e punham os lobos brancos, de quem eram grandes amigos, e de quem recebiam muita comida e bebida, nas estrada, a impedir o acesso…porque os lobos não eram maus…mas as pessoas tinham medo deles e fugiam.
        A montanha do castelo dos gatos brancos nunca mais foi a mesma!

FIM
Lálá
      (27/Outubro/2014)

        

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

O BANDO DE MORCEGOS

          
foto de Lara Rocha 

            Era uma vez um bando de morcegos, que decidiu mudar da cidade para o campo, porque o ar da cidade estava a ficar demasiado poluído. Os mosquitos na cidade eram cada vez menos e de cada vez pior qualidade, quase sem sabor, e os morcegos andavam a ficar fracos, magros, com as forças a falhar.
Não havia praticamente sítios escuros, e os sítios que havia mais escuros, estavam completamente lotados de morcegos. E mais…o ruído era cada vez mais forte: música barulhenta aos gritos em muitas ruas, muitas conversas em que um falava mais alto que o outro, parecia que ninguém se ouvia, carros, motas, camiões e autocarros a circular a toda a hora, toda a noite, por todo o lado.
Toda esta barafunda, confundia os morcegos e deixava-os de rastos…cansados, nervosos e desorientados. Voaram em bando vários quilómetros e começaram a entrar num sítio mais sossegado…nos arredores da cidade. Ficaram muito mais calmos, quase não havia luz, não se ouvia grandes barulhos a não ser dos outros animais noturnos, e havia mosquitos com fartura.
Voaram felizes e calmos pelo campo, comeram até se fartar, e instalaram-se comodamente em vários troncos de árvores velhas, cheias de grandes buracos.
No dia seguinte, recompostos da viagem e com a barriga aconchegada, vão visitar o campo seguinte. Encontram a mesma coisa. Alimentam-se e voltam para o primeiro campo, o da noite anterior.
Nas noites seguintes, exploram os outros campos, felizes e aterram num campo cheio de abóboras. Eles não conheciam esse sabor, e nunca tinham provado, mas viram tantos pássaros a picar uma abóbora que quiseram provar. Gostaram tanto, como gostam de mosquitos, e a abóbora desapareceu num piscar de olhos.
Na noite seguinte, foi muito pior…pássaros, morcegos e bruxas fazem uma festa nesse campo e destroem uma série de abóboras. A dona do campo nem quer acreditar. Apanha-os em cheio, e eles ficaram tão assustados que não fugiram. A senhora distribui vassouradas pelos morcegos, bruxas e pássaros. Grita-lhes, ralha-lhes, e só depois de apanharem é que fogem.
A dona volta a plantar tudo, muito zangada e triste, os seus netos aproveitam as carcaças das abóboras comidas, e fazem decorações assustadoras…parecidas com caras de monstros, bocas gigantes com dentes enormes feitos nas cascas, cortam grandes olhos, muito abertos e põem dentro velas a arder. Iluminadas com velas ainda ficam mais monstruosas e metem mais medo.
Fizeram estas máscaras com as cascas de abóboras e de cabaças, na esperança de que aqueles visitantes indesejados e atrevidos também tivessem medo e não voltassem a estragar o campo dos avós.
Felizmente…aconteceu o que eles queriam. Os invasores voltam ao campo, pensando que a dona já se tinha esquecido, e que já deveria haver lá coisas apetitosas para eles comerem. A senhora estava às escuras a ver da janela do seu quarto:

- Venham, venham meus diabos! Vão ver a bela surpresa que tenho para vocês! É o meu agradecimento por me terem estragado o campo.

            Eles aterram no campo descansados, mas quando vêem que o espaço estava cheio de cabeças luminosas, com caras horríveis, quase gelam…olham para as caras, correm de um lado para o outro, desatam aos guinchos, chocam uns contra os outros, e gera-se uma grade confusão.
            A dona do campo e os netos desatam às gargalhadas a ver a aflição dos invasores, e as quedas, os choques, as sapatadas e os guinchos entre eles.

- Áh, áh, áh…parecem umas baratas tontas! – Diz uma neta a rir

- Funcionou mesmo bem, Avó! – Diz outro neto

- Nunca vi bruxas, morcegos e pássaros com tanto medo de abóboras e cabeças a arder.

            A senhora às gargalhadas põe a cabeça de fora e grita:
- Se voltam a dar cabo do meu campo, serão as vossas cabeças que irão decorar o campo! Xôôô…bandidos…atrevidos…

            Todos desatam a fugir, e não voltam para aquele campo. Depois dessa noite, só foram para os campos abandonados que tinham o que comer, e puderam fazer todas as festas que queriam, sem estragar o que não deviam.
            Claro que foram mauzinhos com a senhora, mas melhoraram a saúde deles e engordaram! Não precisaram de voltar à poluição cada vez mais concentrada nas cidades.

            E vocês? Se fossem morcegos…onde preferiam viver? Nas cidades ou nos campos? Porquê?

FIM
Lálá
(26/Outubro/2014)


            

O CAMPO


      Era uma vez um lavrador que tinha um campo enorme recheado de abóboras. Umas ainda só tinham os troncos e as folhas arrepiadas e enormes, que cobriam delicadamente as flores de futuras abóboras, outras, já tinham as cabecinhas a espreitar, e outras já estavam a crescer.
        Além das abóboras, o lavrador tinha no seu campo, belos e enormes cachos de uvas pendurados nas redes…Huummm…tentadoras! Apetecia comer só com os olhos. Maçãs, pêras, laranjas, romãs e amoras silvestres também faziam parte.
        Era um lavrador orgulhoso e vaidoso do seu campo. Tudo era tão apetitoso e provocador, que até toupeiras e companhia chegaram a comer sementes de abóbora e cabaço. Viam-se muitos buracos na terra.
        O lavrador ficou fora de si, de tão raivoso, e tentou várias vezes apanhá-las mas elas eram muito espertas…só apareciam ao fim da tarde, quando o lavrador não estava.
        Pensando que resolvia o atrevimento das toupeiras e impedia que comessem as outras sementes, construiu um espantalho assustador!
Um molho de palha, enorme, vestiu-lhe uma roupa, pôs-lhe um bigode e barba feitos em lã, uns olhos gigantes, feitos de bolas de futebol, com casca de laranja, uma carcaça de espiga, sem bolinhas de milho, a fazer de nariz e uma boca de tábuas com pregos a fingir que estava aberta e cheia de dentes.
Pôs um chapéu e uma vela no cimo. Estava mesmo assustador. Mas, infelizmente as coisas não correram como ele esperava. Uns morcegos passaram a voar baixinho e chocaram com a vela acesa. Ficaram com as asas chamuscadas, e guincharam nervosos. Deitaram a vela abaixo, e esta queimou o espantalho todo. O seu suporte e toda a palha de que era feito…a roupa…não sobrou nada! O espantalho ficou em cinzas.
O lavrador ficou muito assustado e triste. Não percebeu que foram os morcegos a destruir com a vela. Mas não desistiu. Ele tinha mesmo de proteger aquele campo, por isso, construiu outro espantalho, com uma decoração ainda mais feia e aterradora. Pô-lo no mesmo sítio do outro, com a certeza de que agora estava mesmo seguro.
Mas, infelizmente…saiu tudo ao contrário do que ele esperava! Durante a noite…enquanto o lavrador dormia, vários casais de cegonhas que vinham de muito longe, gostaram do sítio e estavam muito cansadas. Então, instalaram-se lá...atacaram o espantalho, tirando muitos pedaços de palha para fazer os ninhos.
Por estar incompleto e faltarem várias partes, vários outros passarinhos aproveitaram e tiraram mais pedaços. Isso fez o boneco desfazer-se e cair.
As ovelhas, os cavalos, os burros e as vacas aproveitaram logo e comeram a palha do boneco que estava no chão. As toupeiras continuaram a rabear por baixo da terra e a comer raízes e sementes. Por causa disso, alguns legumes e espigas apareceram ruídos ou estragados e murchos. As folhas das couves e alfaces começaram a aparecer ruídas…eram os caracóis que as comiam. Eles sabiam o que era bom.
O lavrador pensou que estava a ter um pesadelo, e não queria acreditar que o campo estava em reboliço.

- Malditos! Vou dar cabo de vocês… - Grita o lavrador muito zangado, quase a explodir.

        Todos os que tinham estragado o campo, riram com vontade.

- E agora…o que é que eu vou fazer?

        Dá uma volta pelo campo, pensativo, pára a olhar para todo o lado, triste, e não se lembra de nada.

- Como é que aqueles horríveis entraram aqui e fizeram isto com o meu campo? Malditos! – Grita – Apareçam covardes.

        É claro que eles não aparecerem, nem responderam, pois sabiam que não iam acabar bem. O lavrador dá outra volta, e tem uma ideia:

- Já sei! Desta vez não falha.

        Constrói vários espantalhos, terrivelmente feios e espalha-os pelo campo. No dia seguinte vê tudo na mesma. Planta novas sementes.
Entretanto, numa linda noite de lua cheia, o campo é visitado por uma bruxa e as suas aprendizes, que resolveram fazer uma festa. O resultado dessa desta com bruxas não podia ser bom. E não foi.
Destruíram tudo. Comeram abóboras inteiras, picaram-nas, e comeram o recheio, conviveram, dividiram as abóboras com os morcegos que também quiseram participar na festa, e nada sobrou.
Depois ainda se juntaram umas criaturas horríveis, desconhecidas que comeram os restos…pássaros enormes que comeram as uvas, pequenos seres estranhos e muito feios, despiram as espigas todas e levaram com elas as bolinhas de milho.
E por fim, uns cogumelos venenosos devoraram num abrir e fechar de olhos, os troncos, os troços, e as folhas dos cabaços. Não sobrou nada! No dia seguinte, o lavrador ficou destroçado, estava tão triste que desistiu de cuidar do campo.
Na noite seguinte, uma grande surpresa…o campo é visitado por um agricultor feito de estrelas cintilantes, e fadas. O agricultor de estrelas e as fadas alisam a terra, limpam-na, aspiram-na, sopram-na, afugentam todo o tipo de bichos que tentam aproximar-se com uma luz que dá choques eléctricos.
Depois da terra limpa e alisada, o agricultor e as fadas trabalham em conjunto: ele cava um buraquinho, uma fada deita as sementes, outra tapa com terra, outra regra, outra aduba.
Fazem vários carreirinhos na terra e plantam abóboras, cabaços, cenouras, cebolas, batatas, couves, milho, flores, feijões de várias qualidades, pepinos, curgetes, olhos franceses, xuxus, nabos, nabiças, e muitas mais coisas, incluindo árvores de frutos, nozes, castanhas, amêndoas, dióspiros, romãs e de tudo um pouco.
Por fim, outra fadinha sacode as asas e deixa uns lindos brilhantes na terra, e sobre tudo o que plantaram. Refugiam-se numa casinha num tronco velho e ficam a descansar.
Todos os dias e várias noites, várias semanas, as fadas e o agricultor feito de estrelas, iam vigiar o campo e cuidar dele. O lavrador recuperou da tristeza quando olhou para o seu campo e tudo estava tratado, limpo, com as produções a espreitar na terra.

- Áh! Quem esteve aqui?

        O lavrador nunca teve resposta para esta pergunta…só viu o resultado final…um maravilhoso campo recheado de coisas boas. tudo o que tinha sido plantado, cresceu enorme, suculento, tenro, fresco, de encher o olho.
        O lavrador colhe tudo quanto pode e come deliciado. Oferece algumas coisas aos seus familiares, amigos e vizinhos, e nascem umas coisas atrás das outras.
Com isso, o lavrador enriquece e volta a cuidar dos seus campos com muita dedicação, carinho e atenção, claro…com a ajuda do agricultor de estrelas e das fadas que ele nunca viu.
Mesmo que não os vejamos, podemos sentir, e sabemos que eles estão lá, por todas as coisas maravilhosas que comemos, e que colhemos da terra. Só pode ser tudo obra de uns seres muito especiais como…anjos…ou…fadas…ou…bom…aqueles que vocês quiserem. Não acham?
A natureza é um verdadeiro milagre! Ela dá-nos tudo o que tem de melhor, mesmo quando não a tratamos bem. Por isso, não faremos muito, se lhe retribuirmos de alguma maneira…por exemplo, a cuidar bem dela, protegê-la, e todos os dias agradecer o que ela nos dá! O ar, a vida, a água, a comida…a felicidade e a paz!

FIM
Lálá
(26/Outubro/2014)