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domingo, 31 de agosto de 2014

A JOANINHA ARTISTA

Era uma vez um prédio, feito numa enorme árvore, onde viviam muitas famílias de joaninhas de muitas cores. Uma joaninha aproximou-se de outra que estava a sair do prédio e pergunta:
- Olá! Estou á procura de uma casa…sabes onde posso encontrar?
            A outra joaninha responde sorridente:
- Aqui neste prédio, ainda há apartamentos vagos. Fala aí com a porteira… desculpa não ir contigo, mas tenho de ir para a escola.
- Claro. Obrigada, e bom dia de escola.
- Obrigada. E se ficares aqui…até logo!
- Até logo.
            A joaninha vai ter com a porteira do prédio. Conversam uma com a outra, e a simpática porteira leva-a a ver os apartamentos disponíveis. Escolheu o que ficava no último andar, porque adorou a paisagem que via da janela, a luz de toda a casa, o conforto e o terraço que tinha.
A porteira volta ao seu trabalho. A joaninha instala-se, muda de roupa, põe óculos de sol, e vai para o terraço dançar e cantar, com a música muito alta. Toda a gente que passa, fica a olhar. Ela é artista, e ensaia de dia e de noite.
As outras famílias de joaninhas começaram a ir à noite bater-lhe à porta, e pedir-lhe para fazer pouco barulho. Resmungavam porque tinham crianças a dormir. A joaninha pedia desculpa e parava.
Entretanto, começou a ficar triste porque se sentia muito sozinha. Os vizinhos não queriam estar com ela, porque ela fazia muito barulho, e como todos os casais andavam de um lado para o outro, numa enorme correria, para os seus trabalhos, não havia tempo para se encontrarem e conhecerem.
A joaninha ficou tão triste que durante várias noites, só chorou…não saiu de casa, nem cantou, nem dançou!
Embora os vizinhos estivessem contentes por ela estar calada, mesmo não a conhecendo bem, começaram a estranhar tanto silêncio da vizinha do último andar. Uma joaninha de pintas pretas e pele amarela perguntou à porteira:
- Olá Daniela, tem visto a vizinha do último andar?
- Qual? Aquela que chegou há pouco tempo e que fazia muito barulho?
- Sim!
- Eu até tenho medo dela…! Não, não a tenho visto…nem ouvido! Mas parece estar em casa.
- Será que está doente?
- Não…deve estar cansada de tanto abanicar a cabeça, e de ouvir a música tão alta. Mas pode ser…fica doente como os outros, lá porque canta e dança, ou lá o que aquilo é…diz ela, porque para mim, aquilo não é cantoria nem dançaria… é…barulho!
- Não será melhor ir lá cima saber dela?
- Olhe, eu não vou! Deixe-a estar…e se eu fosse a si, também não ia. Estes artistas são malucos! Veja lá!
- Está bem…até logo.
- Até logo.
            Mas a joaninha não ficou convencida nem sossegada. Então, decidiu ir ao andar da joaninha artista. Bateu à porta. A joaninha dá um salto, assustada, limpa as lágrimas…
- Quem é?
- É a vizinha!
            A joaninha abre a porta:
- Olá. O que foi agora? Vão-me expulsar, é?
- Não! Desculpa incomodar…mas…só vim saber se estás bem, ou se estás doente! Fiquei preocupada com tanto silêncio, e nunca mais te vi!
- Ááááhhh…entra.
            As duas entram. A joaninha fecha a porta.
- Senta-te…não tenhas vergonha.
            As duas sentam-se.
- Queres tomar alguma coisa, ou comer?
- Não, obrigada! Só vim mesmo saber de ti!
            A joaninha abre um grande sorriso, abraça a outra joaninha e dá-lhe um beijo na cara, todo repenicado.
- Óh! Muito obrigada, querida! Ficaste mesmo preocupada?
- Sim, claro!
- Óh! Tão linda…
(Ela sorri)
- Estás bem?
- Eu estava muito triste, mas agora que tu apareceste, estou feliz!
- Ainda bem… (sorri) Mas estavas triste, porquê?
- Porque sentia-me muito sozinha…sabes, eu vim de um sítio onde os vizinhos eram muito simpáticos, chego aqui para trabalhar, os meus pais ficaram lá na minha casa com os meus irmãos e irmãs. Pensei que estes vizinhos iam ser como os meus. Todos simpáticos, todos amigos, mas não! São todos carrancudos, só andam a correr, não olham para ninguém, não cumprimentam ninguém…e só vem cá acima reclamar de barulho!
- Pois! Aqui é uma cidade…! Não há tempo para nada.
- Pois eu acho isso muito mal…vocês devem estar sempre doentes…não fazem mais nada a não ser trabalhar?
- Não. Infelizmente tens razão…não fazemos mesmo mais nada. Mas já estamos habituados!
- Mas isto é horrível.
- Pois é.
- Deviam parar um bocado…fazer coisas que gostam!
- É! Mas não temos tempo.
- Que tristeza! Não gosto de ouvir isso.
- Tu não trabalhas?
- Trabalho! Canto e danço! Ensino a cantar e dançar…foi para isso que vim para aqui! Foi o que me calhou no concurso.
- Áh!
- Tu gostas de dançar?
- Eu…acho que nunca dancei!
- Nunca dançaste, como?
- É. Sou estudante! É só livros e escola.
- Que horror…! E olha, estes dias fiquei tão triste, que não cantei, nem dancei…só chorei!
- Podes ensinar-me a tua dança?
            A joaninha artista abre um grande sorriso:
- Tu queres aprender a minha dança?
- Quero! Achas que me podes ensinar?
- Claro que sim…é já!
- Achas que consigo aprender?
- Mas que pergunta…claro que consegues aprender. Toda a gente aprende!
            As duas levantam-se.
- És feliz?
- Muito!
- Eu quero ser tão feliz como tu…
- E serás! A dançar e a cantar.
A joaninha começa a dar as primeiras explicações, a outra segue tudo. Depois põe música e dançam ao som e ao ritmo da música. As duas ficam muito felizes.
- É mesmo gira esta dança.
- É! Estás feliz não estás?
- Muito…é mesmo bom.
- É. Eu disse-te que ias adorar. E aprendeste muito rápido.
- Eu quero aprender todas!
- E vais aprender…
            As duas riem, a porteira vai para ralhar, mas fica contagiada pela música e pelas danças das joaninhas tão bonitas, e dança também, toda feliz. E mais nada foi igual nesse prédio, e nessa cidade. Nessa mesma noite, a joaninha artista, sai do prédio e convida todos a dançar com ela.
Primeiro, os vizinhos não acham graça, resmungam um pouco, mas vão ver. Pouco depois, quando a joaninha começa a dançar e a cantar…todos são levados pela alegria dela, pela música, e juntam-se centenas ou milhares de joaninhas, todos dançam e cantam com ela numa grande alegria. Aplaudem, saltam, abanam o corpo todo, felizes e leves.
A cidade ganha uma nova vida, e todos passam a adorar a joaninha artista que dá muitos espectáculos e ensina todos os que querem aprender a cantar e a dançar como ela. É lindo de ver. Todos andam muito mais simpáticos e risonhos. A joaninha nunca mais ficou triste, nem se sentiu sozinha, e de dia para dia, teve cada vez mais alunos para ser tão felizes como ela.

FIM
Lálá
(31/Agosto/ 2014)



À PROCURA DE UMA CASINHA


Era uma vez um coelhinho que veio de muito longe, com uma grande mochila às costas, e mais uns sacos, à procura de um tronquinho numa arvorezinha, para fazer uma casinha. 

Chegou a uma aldeiazinha, cheia de casinhas pequeninas nos troncos das arvorezinhas, mas já todos estavam habitados por outros coelhinhos. 

O coelhinho bateu à portinha de uma casinha onde vivia uma família de coelhinhos, e perguntou ao coelhinho grande que apareceu à porta, onde poderia encontrar um tronquinho de uma arvorezinha para fazer uma casinha.

O coelhinho respondeu-lhe que num tronquinho de uma arvorezinha velhinha, havia uma entradinha para fazer uma casinha. 

O coelhinho agradeceu, e foi á procura da tal arvorezinha velhinha. Entrou e gostou. Pousou a sua mochila e os seus sacos, e foi à procura de tronquinhos para fazer uma mesinha, um banquinho, uma caminha e um armarinho. 

Encontrou muitos tronquinhos cortados, redondos e quadrados. Passou um cavalinho e um burrinho, que vinham do seu pasto e o cavalinho perguntou ao coelhinho se queria uma ajudinha.

O coelhinho aceitou, muito agradecido. Então, ele, o cavalinho, e o burrinho carregam os tronquinhos que o coelhinho tinha encontrado, e ajudaram-no a montar a sua casinha: com uma mesinha, vários banquinhos, uma caminha, vários moveizinhos.
Tudo estava lindo. Mas faltava uma coisinha...Luz! O cavalinho e o burrinho levaram o coelhinho a uma lojinha da aldeiazinha onde trabalhava o amigo Luzinhas, e vendia lindos candeeiros. 

O coelhinho escolheu todos os que queria, e lá foram os 

três, com o Sr. Luzinhas para instalar os candeeiros. 

Estava uma verdadeira casinha, tal como o coelhinho 

tinha imaginado. 

Mas ainda faltava mais uma coisinha para a casinha 

ficar completa: a comidinha.

O cavalinho e o burrinho levaram o coelhinho a vários 

campos cheios de erva macia, fresca, e suculenta, 

tenra…cenouras grandes, rabanetes, belas batatas e 

enormes couves. Os três carregaram tudo o que o 

coelhinho precisava.

Pelo caminho, o burrinho lembrou o coelhinho que 

ainda faltava uma casinha de banho, e água. O 

cavalinho levou o coelhinho, ao Mestre Afonsinho, que 

era carpinteiro e fazia muitos outros serviços. 

cavalinho carregou o material do mestre Afonsinho, 

e o burrinho deu boleia ao Afonsinho e logo pôs mãos 

à obra!

Ligou um tronquinho de uma árvore, a outra ao lado, 

por dentro, e montou uma bela casinha de banho, com 

tudo…instalou a água em todas as torneiras da 

casinha do coelhinho, e construiu mais alguns 

moveizinhos, e janelinhas.

Finalmente, a casinha do coelhinho no tronquinho da 

arvorezinha estava perfeita e prontinha. O coelhinho 

tinha tudo, até água quentinha e lareirinha para os 

dias de neve que rapidamente se aproximavam da 

aldeiazinha. 

Todos os vizinhos que viviam nas outras casinhas à 

volta do coelhinho, saíram das suas casinhas e foram 

conhecer o novo vizinho! Foram muito simpáticos com 

ele, ofereceram-lhe muitas coisas para comer, beber, e 

vestir, conversaram alegremente com ele, e riram.

O coelhinho ficou muito feliz! Já tinha a sua casinha, 

prontinha, nos tronquinhos das arvorezinhas e agora 

tinha arranjado novos amiguinhos que eram bons 

vizinhos! 

Estavam sempre preocupados com ele, e todos os dias 

iam visitá-lo, saber se não precisava de nada, se 

estava tudo bem…e até passear com ele. Convidavam-

no para festas e refeições, e o coelhinho começou a 

fazer o mesmo!


O coelhinho gostou tanto desta aldeiazinha, da sua 

casinha, e dos seus amiguinhos vizinhos que nunca 

mais de lá saiu!

FIM
Lara Rocha 
(31/Agosto/2014) 

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

O COMILÃO

Era uma vez uma cidade enorme onde havia muitas crianças. Na hora de dormir, o João Pestana trabalhava muito, mas ele adorava o que fazia. Ia de quarto em quarto, onde havia bebés e crianças, e deitava o seu pozinho dourado e mágico do sono sobre os olhos dos pequenos para eles dormirem. 
Além do pó do soninho, o João Pestana também deitava uns pozinhos de bons sonhos, para os meninos descansarem bem de noite, ter bons sonhos e ficar cheios de alegria e energia para o dia seguinte. 
Tudo estava a correr bem para o Pestaninha, e realmente, os pequenos não tinham maus sonhos, dormiam bem, e quando às vezes acordavam durante a noite, era porque estavam doentes, com frio, fome ou sede. 
Mas um dia, aconteceu uma coisa muito estranha: o João Pestana deitava os pozinhos, mas os meninos começaram a ter maus sonhos! Acordavam aos gritos  e a chorar de noite, iam para a cama dos pais muito assustados, faziam chichi na cama, com tanto medo. Sonhavam com coisas mesmo muito feias e más. Felizmente eram só sonhos, não existiam...mesmo assim eram assustadores! 
O Pestaninha não estava a perceber nada...e a ficar triste, porque não gostava que os meninos tivessem sonhos feios...durante várias noites, ficou muito atento a tudo o que passava nos quartos dos meninos e viu que eles acordavam por causa de sonhos maus. 

- Huummm...mas o que é que se passa aqui? Alguma coisa de muito estranho! Porque é que agora os meninos acordam muito assustados com o meu pó dos sonhos? Isto não acontecia. 

Como não encontrava nada de estranho, foi ao sábio da sua floresta. Contou-lhe o que se passava. O sábio foi à sua gigantesca enciclopédia de fenómenos misteriosos, e com a ajuda do João Pestana encontram a resposta. 

- Era o que eu suspeitava! - Diz o sábio. 

- Já descobriu o que é? - Pergunta o João Pestana 

- Sim! É o comilão dos sonhos bons...uma espécie de túnel de vento que ao passar pelos olhos dos meninos, quando vagueia pelos quartos, aspira o pó dos sonhos, o seu alimento preferido, e por isso, as crianças têm pesadelos...maus sonhos...o que lhes quiserem chamar. - Explica o sábio 

- Áh! Mas eu não vi nada! - Garante o João Pestana 

- Pois não! O vento também não se vê! 

- Pois não! Isso é verdade. Só sabemos que o vento existe pelo que ele faz abanar. 

- Pois claro! Este é igual. 

- E porque é que ele aparece? 

- Porque tem muita fome! 

- Mas ele não pode fazer isso! 

- Filho, não o julgues...se tivesses muita fome talvez fizesses o mesmo. 

- Mas há tanto que comer! 

- Pó de sonhos bons, infelizmente é cada vez mais raro, nas grandes cidades.

- E ele só come o pó dos sonhos bons?

- Sim! É isso que lhe dá força. 

- Mas para que é que ele tira o pó dos sonhos bons às crianças?

- Porque o pó dos sonhos das crianças é bom, é natural e saudável. 

- E porque é que ele não come o pó dos sonhos bons dos adultos...?

- Porque o pó dos sonhos bons dos adultos é muito poluído, de fraca qualidade, e raro! 

- Mas ao tirar o pó dos sonhos bons das crianças, fá-las ter sonhos maus...pesadelos! Por causa disso, elas acordam de noite aos gritos, assustadas, assustam os pais...

- As criança também precisam de ter sonhos maus. 

- Precisam?

- Precisam! Isso faz parte do crescimento delas, é saudável para elas, desperta-as, e fá-las pensar nos seus medos, para encontrar formas de os vencer. 

- Áh! É?

- É! 

- Não sabia. 

- Porque na vida, as crianças não vão andar em cima de mares de rosas, ou algodões e areias macias...vão encontrar muitos desafios, muitas flores com espinhos que picam...muitas dificuldades! E a força que terão para os enfrentar...começa a formar-se agora...nestas idades! 

- Áh! Então quer dizer...ele come o meu pó! 

- Sim! 

- Mas que atrevido! O que é que eu faço? 

- Deixa o bicho em paz....! Quando ele entender que está satisfeito, ele pára de comer o teu pó dos sonhos bons, e as crianças voltam a ter sonhos bons. 

- Então...não faço nada?

- Não! Apenas continuas a fazer o teu trabalho de todos os dias! A distribuir os dois pós por cada criança. 

- Mas...

- Não te preocupes com os pequenos...eles precisam de viver estas experiências! São pequenos ensaios para coisas mais terríveis que vão ter de enfrentar, muitas vezes...só eles próprios poderão resolver. Um dia destes, ele vai deixar de comer tanto! Deixa-o estar! Ele não faz mal, e tem direito à vida, e só está a ajudar. 

- Bem...se é assim...! 

- Sim! 

- Mas, e os pais? 

- Não te preocupes com os pais! Eles são grandes, já passaram por estas coisas, e sabem o que fazer. 

- Também conheceram este bicho comilão? 

- Claro que sim! Felizmente todos conhecemos. Faz-nos tão bem...mas nem sabemos que ele existe! 

- Muito obrigado, Sábio! 

- De nada, rapaz! (sorri) Vai, e volta sempre que precisares. 

- Muito obrigado. 

O João Pestana foi o caminho todo a pensar nas palavras tão importantes e verdadeiras do sábio. Então, decidiu deixar os saquinhos para cada menino, e um saquinho de pó dos sonhos bons em cada quarto, para o monstro comilão, assim, o monstro comia todo o que lhe apetecesse dos seus saquinhos, e deixava as crianças com os seus sonhos bons. O monstro ficou mesmo muito feliz, e agradeceu...:

- Óh! Mas que delícia...não sei de quem foi este presente, mas, muito obrigado! Espero que não seja uma armadilha... hummm... este pó parece igual...sim...o cheiro...hummm...e o sabor...é o mesmo. Óh...muito obrigado. Durmam, meninos...fiquem lá com os vossos sonhos bons, e partilhem-nos com as estrelas, para ver se acontecem...

(Gargalhadas do monstro) 

E assim, as crianças deixaram de ter tantos pesadelos! 

                                     FIM 
                                    Lálá 
                          (28/Agosto/2014) 

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

O violino

Era uma vez um violino que vivia sozinho num campo abandonado. Quer dizer, ele nunca estava verdadeiramente sozinho, durante muito tempo, porque havia pessoas que passavam por esse campo para pensar, meditar e desabafar. Era um campo de solitários. E as pessoas raramente se cruzavam por lá. Iam sempre a horas diferentes.
            O violino foi deixado nesse campo que pertencia a uma casa, agora quase só tinha as paredes. O filho dos donos da casa teve muita pena, mas foi obrigado a deixar o seu violino de quem tanto gostava, porque os pais não gostavam de o ouvir.
            Mudaram de casa, e o violino ali ficou. Debaixo de uma árvore, para não se estragar. A árvore tornou-se a casa dele, e a sua mãe, que o protegia numa abertura do seu tronco, quando estava a chover ou frio.
Além disso, este violino era muito especial: tocava sozinho, não precisava de dedos para tocar nas cordas. Sempre que ia alguém a esse campo, ele tocava melodias de acordo com os sentimentos da pessoa.
Umas músicas eram alegres, outras tristes, outras muito tristes, e outras muito alegres. Ninguém percebia de onde vinha o som, mas gostavam muito. Até pensavam que estavam a sonhar. Ele já tinha aprendido a identificar o que sentiam as pessoas.
Mas o violino também não estava sempre feliz. Muitas noites, o pobre chorava e suspirava de tristeza e de solidão. Pensava no seu amigo humano, e como ele estaria, se sentiria falta dele, se estava a dormir, ou se já o tinha trocado por outro. As melodias que saíam das suas cordas eram tristes, vagarosas, soltas, arrepiantes.
A árvore ouvia o som das lágrimas do violino dentro dela, e ficava com pena dele. Um dia perguntou-lhe:
- Óh violino: que barulho é este?
- Qual barulho?
- Este de água a cair…
- Áh! Desculpa, são as minhas lágrimas. Estou a incomodar-te?
- Não, não! Fica à vontade. Só queria saber o que era…mas…estás triste?
- Sim…
- Posso saber porquê?
- Claro, acho que até tu já sabes…
- Tens saudades?
- Sim, muitas saudades do meu amigo.
            A árvore vê o filho dos donos da casa, mas não diz nada.
- Ele também deve ter saudades tuas.
- Achas?
- Claro.
- Mas nunca mais me veio ver…
- Sabes que agora foi viver para mais longe. Mesmo assim, ele não te esqueceu!
- Não?
- Não.
            O rapaz aproxima-se da árvore, e espreita. Grita:
- Estás aqui, amigo?
            O violino estremece, a árvore sorri. Os dois olham-se, dão uma gargalhada e um abraço longo e apertado.
- Óh…que bom ver-te outra vez! – Diz o rapaz sorridente e feliz
- Eu também…já tinha tantas saudades…estava mesmo a pensar em ti.
- Vou mudar-me para aqui.
- Mas…
- É. Não consigo viver longe de ti…como não te posso levar para a minha casa, venho eu para aqui.
- Mas…
- É isso mesmo!
- A casa dele, é a tua casa, sempre que precisares…rapaz! – Diz a árvore
- Muito obrigado! – Diz o rapaz a sorrir
- Entra…está frio. – Diz o violino
            Os dois abraçam-se outra vez, e trocam carinhos. Têm uma longa conversa, choram e riem, tomam chá quente, e adormecem quase de manhã. O rapaz deita-se no saco cama e dorme abraçado ao seu amigo violino.
No dia seguinte, o rapaz toca o dia todo, e chama muita gente para lá, porque de noite, enquanto o rapaz dormia, ou ia trabalhar para a cidade, o violino tocava sozinho, ao sabor do vento a passar, das penas das aves que caiam e roçavam nas suas cordas, e mesmo ele sozinho, de acordo com o que as pessoas sentiam.
Os pais do rapaz imploraram que ele voltasse para casa, mas ele disse-lhes que não voltaria sem o seu amigo violino. Então, os pais autorizaram o regresso do violino a casa, e graças a esse regresso, ganharam o filho de volta, e muito dinheiro, com os espectáculos do misterioso violino que tocava sozinho pelas ruas.
Todos o adoravam, e realmente, ele tocava maravilhosamente bem! Mesmo sozinho. O rapaz nunca mais se separou dele, e os pais passaram a adorá-lo, porque as músicas que ele tocava, eram melodiosas, transmitiam paz, e alegria.   

FIM
Lálá

(20/AGOSTO/2014) 

bolo de lua

Era uma vez uma menina que estava quase a fazer anos. Ela sabia que os Avós e os Pais viviam com dificuldades económicas, mas nunca faltava o principal: amor, carinho, atenção e comida. Quando a Avó lhe perguntava o que é que ela queria para aniversário, ela respondia: 

- Nada, Vóvó... já tenho tudo. 

A Avó ficava deliciada ao ouvir esta resposta, mas via nos olhos da neta que ela queria alguma coisa, mas não tinha coragem de dizer. A Avó insistia: 

- Filha, o que queres para prenda de anos, este ano? 

A menina voltou a responder:

- Nada, Vóvó, já tenho tudo. 

Isto não convencia a Avó...e ela tentou outra vez, de outra maneira, para ver se desta vez, conseguia alguma resposta:

- Qual era o teu presente de sonho? 

A menina pensa um pouco, sorri e diz:

- Vóvó, se é um presente de sonho, só existe nos sonhos...

- Não faz mal, diz na mesma...qual era o presente dos teus sonhos...! - Desafia a Avó

- O presente dos meus sonhos era...era...hummm...

- Não queres dizer, é? 

- Posso dizer, porque afinal, sei que não passa de um sonho. Não é possível de realizar... 

- Como é que sabes? Pode ser que seja possível realizar...

- Hum, tenho a certeza que não! Mas está bem, eu digo-te. O presente dos meus sonhos era ter um bolo de aniversário em forma de Lua Cheia, com estrelas e planetas e astros...e...mais luas...e...e...sóis...e tudo o que há no espaço...em chocolate! 

- Áh! Mas que bonito...devia ficar mesmo giro...Mas porque é que achas que esse presente é impossível? 

- Porque nunca vi nenhum bolo assim! 

- Se calhar também nunca contaste esse teu sonho a ninguém, para te poderem oferecer. 

- Pois não. 

- Porque não? 

- Porque as estrelas, os planetas e os sóis, estão muito lá em cima...e a lua também...e não se podem comer. 

- Sim, mas o chocolate pode-se comer.

- Pode. Mas nunca vi nenhum bolo assim. 

- Mas pode ser que haja. 

- Não. Acho que só nos meus sonhos.

- E de que cor querias a Lua?

- Azul...ou...prateada. As estrelas de muitas cores, o sol de amarelo, e os astros de branco. 

- Que lindo.

- Mas não existe. Só nos meus sonhos! 

- Óh...está bem. E só querias isso? Não querias alguma coisa que está mais perto?

- Não, Vóvó, eu já tenho tudo...tu já me dás todos os dias presentes... e os meus papás também...e os manos também. Vocês são os melhores presentes...e o Avô também...

As duas abraçam-se, e trocam carinhos e sorrisos. Entretanto, nessa mesma noite, a menina já dormia, e o dia do seu aniversário era a seguir. Então, a sua Avó juntou a Mãe da menina e umas amigas que tinham muito jeito para a cozinha e fizeram o bolo dos sonhos da menina, mas ainda mais bonito do que ela imaginava. A menina nem sonhava o que a esperava, na manhã seguinte, do seu aniversário cheio de sol. Convidaram os seus melhores amigos e primos, passaram uma tarde cheia de brincadeiras e coisas deliciosas, muitas gargalhadas e muitas prendas, que deixaram a menina muito feliz. Quando chegou a hora dos parabéns... mandaram a menina fechar os olhos. O Avô tira o bolo do frigorífico e põe na mesa.

- Podes abrir...- Diz a mãe sorridente.

A menina abre os olhos, e vê um lindo bolo, ainda mais bonito do que ela tinha dito. Era mesmo com a forma e a cor da lua cheia, com estrelas de muitas cores espalhadas pelo bolo, sóis...tudo de comer! E tudo de chocolate. 

- Óhhhhhh....que lindo! Uau! - Exclamam todos 

- Parece que foi feito por uma fada! - Comenta uma amiguinha. 

- Pediste às estrelas? - Pergunta outra amiguinha 

- Sim. Pedi a uma das maiores estrelas da minha casa, e da minha vida! A minha Avózinha. 

Ela abre um grande sorriso, e grita de alegria...saltita, todos batem palmas. 

- O bolo dos meus sonhos...! - Suspira a menina com um grande sorriso. 

- Vês, querida! - Diz a Avó. 

- Como conseguiste Vóvó? 

- Magia! - Diz a Avó a rir 

- És a melhor...a seguir aos meus papás! 

Todos riem, e cantam os parabéns. O bolo está realmente delicioso, e desaparece num instante. Está tão bom, que desde esse dia, a Avó da menina não teve mais descanso...foi só fazer bolos...mas também com a ajuda da menina, da filha e das amigas. Juntaram muito dinheiro, e com isso a Avó abriu uma escola de pastelaria, e um restaurante que fez muito sucesso, com pratos mágicos, que todos adoravam. Mesmo com todo o dinheiro e sucesso, a menina continuou a ter os seus maiores presentes: os pais, os manos, e os Avós, todo o seu carinho e amor. Estes sim, meus queridos, são mesmo os maiores presentes...mas há muitas crianças que não têm a sorte que esta menina e outros têm. 

Um sonho simples, às vezes pode ser realizado, como este, e pode mudar a vida das pessoas. 

E para vocês...qual era o presente de aniversário que mais gostavam de receber? 

Já receberam algum especial? 

Qual? 

Porque é que ele era especial? 

                                                               FIM 
                                                               Lálá 
                                                              (20/Agosto/2014) 

domingo, 10 de agosto de 2014

O LAGO DAS LÁGRIMAS


Era uma vez um campo enorme, deserto, de uma propriedade ao lado de uma casa desabitada. Só havia terra e erva seca...parece palha...amarela.
            Um dia, uma fada passeava por essa zona, nas asas de um pequeno dragão e o pobre bicho que era alérgico ao pó, desata a espirrar e a tossir, com os olhos a chorar.
- O que se passa dragão?
- Não sei...atchim...cof...cof...atchim, atchim.
- Estás a ficar constipado?
- Já sei...atchim...estamos a chegar a um sítio...atchim...deserto...seco.
- Áh! Então estás com alergia ao pó?
- Sim...atchim.
- Coitadinho...então vamos sair daqui.
- Não! Atchim...não há problema...cof...cof...atchim.
- É este terreno aqui em baixo!
- Atchim...atchim..., atchim, atchim...
- Olha que secura! Não admira que espirres, e que te dê tosse! Vamos pousar ali...se puderes!
- Sim! Sem problema...a...atchim...
- Óh...e a tua alergia?
- Não faz mal...já estou ha...habituado. atchim, atchim, cof...cof.
            O dragão pousa e a fada olha em volta...
- Que tristeza!
- Atchim! Não há...a...a...atchim. não há uma única árvore.
- Nem árvore, nem sequer paus.
- Nem...atchim...flores.
- Pois não! Nem animais...nem nada para eles comerem!
- Está tudo ab...atchim...atchim...a...atchim...abandonado.
- Se calhar foram embora os animais, por não terem que comer.
- Pois é! Coitados!
- Será que pertencia a esta casa?
- A casa...a...aaaa...atchim...também parece abandonada. Atchiu!
- Atchiu...? Estás-me a mandar calar?
- Não. Desculpa...é que queria espirrar e falar ao mesmo tempo, saiu este som estranho.
- Áh! Estava a ver. Vamos dar mais uma voltinha por aqui.
- Va...a...atchim...vamos.
            Eles passeiam pelo campo, o dragão espirra e tosse, e dos seus olhos caem milhares de lágrimas para o chão, molhando tudo.
- Que pena! Está mesmo tudo abandonado. – Suspira a fada
- Acho que...a...aaaatchim...podemos fazer alguma coisa por este terreno, não?
- Eu gostava, mas o quê? Está tão seco que acho que nada nascerá aqui!
- Porque não aproveitamos as minhas lá...a...g...aaaatttchiiiimmmm...lágrimas?
- As tuas lágrimas?
- Sim!
- Para quê?
- Para...cof...cof...a...a...atchim...para molhar a terra.
- Áh! Boa ideia. Achas que consegues?
- Claro que consigo. Já me caíram uma série delas...atchim.
- Está bem. Vamos tentar!
            O dragão espirra e tosse quase sem parar...a cada passo que dá. E dos seus olhos caem fios de lágrimas enormes, que molham todo o terreno. Quando o pó fica abafado, o dragão continua cheio de lágrimas.
            A fada apanha algumas das lágrimas do amigo, e deita-as em sítios diferentes. Com a terra molhada, o dragão ajuda a fada a semear flores, erva e alimentos. Ainda conseguem construir um grande lago artificial cheio de água.
            Uns dias depois voltam ao mesmo terreno, e os cultivos já estão com as cabecinhas de fora. Eles regam e mudam-se para a casa abandonada para tomar conta do espaço. De noite, o dragão aquece e protege a fada, e tratam de tudo.
            Com o passar do tempo, os cultivos crescem e os animais começam a instalar-se lá. No lago entram patos, gansos, cisnes e outros animais, como aves, coelhos e esquilos fazem as suas tocas nas árvores. Outros animais sentem um cheiro tão bom no ar que sai do campo, que vão para lá pastar a erva fresca.
            Todo o espaço que era um verdadeiro deserto, transformou-se num belo campo com produtos da terra, apetitosos, e para onde muita gente começou a ir descansar, fazer desportos, apanhar ar e relaxar.
            A fada juntou as suas amigas e restauraram a casa abandonada, transformando-a num verdadeiro palácio de sonho, só para elas e para as suas festas.
            Abençoada alergia do dragão que com as lágrimas que fez cair dos seus grandes olhos, todo um campo deserto, seco e abandonado, num espaço verde e maravilhoso, e as fadas ganharam uma casa de bailes, chás e bolos, e muitas outras atividades. 

                                               FIM
                                               Lálá

                                   (29/Julho/2014)