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quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

O bolo especial

NARRADORA – Era uma vez uma ilha selvagem, perdida numa praia selvagem. Nessa ilha vivia uma grande comunidade de Índios, que nunca tinham ido á cidade, nem tinham comunicado com outras pessoas. Esses índios vestiam muito pouca roupa, e não tinham nada que fosse pré-fabricado. Eles próprios construíam os utensílios de cozinha, os instrumentos de defesa, os medicamentos com produtos naturais, roupas, a comida era a própria terra que dava, e o que plantavam. As famílias eram muito numerosas e viviam em tendas cobertas de cabaninhas de palha para se protegerem da chuva e do calor, embora chovesse muito pouco. Não lhes faltava nada. Davam-se todos bem. Numa noite com uma Lua Cheia que iluminava tudo, uma fada Luísa sobrevoou essa ilha, quando já todos dormiam. Estava lá outra fada residente, pousada numa árvore muito velha, a tocar uma música muito suave com a sua harpa, como era costume.  
FADA LUÍSA – Olá, boa noite!
FADA LUZ (sorri) – Olá!
FADA LUÍSA (sorridente) – Tocas tão bem…! Continua, por favor.
FADA LUZ (sorri) – Agora é hora do silêncio. Entra na minha casa, para conversarmos um pouco…!
(As duas entram na velha árvore)
FADA LUZ – Esta é a minha humilde casa…bem-vinda!
FADA LUÍSA – Áh! A tua casa é linda! E tu também.
FADA LUZ (sorri) – Obrigada. És nova aqui, não és?
FADA LUÍSA – Sim. Estou só a sobrevoar a zona…e tu? De onde és?
FADA LUZ – Eu vivo aqui, desde que nasci. Os meus pais vivem naquele cogumelo ali adiante, muito perto daqui, vou lá todos os dias, e eles vem cá, mas quis algum espaço só para mim. Faço música para trazer paz à ilha, e para os adormecer. E tu, o que vieste fazer para além de sobrevoar?
FADA LUÍSA – Vim ver como era esta ilha, com a Luz da Lua.
FADA LUZ – É linda…esta ilha é um sonho…de dia e de noite, com qualquer lua. Sabes, aqui todos vivem bem, mas falta uma coisa que…talvez nós as duas possamos ajudá-los a ter!
FADA LUÍSA – O quê?
FADA LUZ – Sorrisos!
FADA LUÍSA (muito surpresa) – Sorrisos?
FADA LUZ – Sim! Sorrisos…eles não sorriem, nem riem!
FADA LUÍSA – Porquê?
FADA LUZ – Deve ser a sua maneira de ser. Estão sempre com cara de pau.
FADA LUÍSA – Cara de pau? Mas eles não têm pele, como nós?
FADA LUZ – Têm pele, como nós, claro, mas estão sempre sérios…
FADA LUÍSA – Sérios…? Huummm…porquê?
FADA LUZ – Não sei, parecem sempre aborrecidos, ou chateados, ou…tristes!
FADA LUÍSA – Porquê?
FADA LUZ – Não sei. Acho que nem sabem o que é sorrir, ou rir.
FADA LUÍSA – Mas como é que isso é possível?
FADA LUZ – Este povo vive muito isolado, nunca contactou com outras pessoas.
FADA LUÍSA – Nunca foram à cidade?
FADA LUZ – Não, nem os da cidade vieram aqui. Os visitantes passam sempre de longe.
FADA LUÍSA – E como é que conseguem ter as coisas que precisam?
FADA LUZ – Aqui, têm tudo! Só lhes falta sorrir, e rir.
FADA LUÍSA – Mas sorrimos desde que nascemos!
FADA LUZ – Nós, sim, mas não somos todos iguais! Nós sorrimos desde que nascemos, porque os nossos pais sorriem-nos, e amam-nos, mas talvez estes pais não sorriam, nem riam para os filhos!
FADA LUÍSA – Será que não gostam dos filhos, como os nossos pais gostam de nós?
FADA LUZ – Acredito que gostem dos filhos, mesmo sem lhes sorrir. Talvez tenham outra maneira de lhes mostrar o amor que sentem!
FADA LUÍSA – Mas se não lhes sorriem é porque não ficam felizes por ter os filhos no colo!
FADA LUZ – Não acredito muito nisso! Somos todos diferentes, aprendemos muitas coisas iguais, mas não concretizamos o que aprendemos, todos da mesma maneira. Uns são mais expressivos, outros mais reservados, mas acredito que tenham na mesma os sentimentos e que haja amor entre eles.
FADA LUÍSA – Eles brincam?
FADA LUZ – Não.
FADA LUÍSA – Eles abraçam-se e beijam-se?
FADA LUZ – Não.
FADA LUÍSA – Por isso é que eles andam sempre tristes!
FADA LUZ – Sim, pode ser…todos precisamos de abraços e beijos, isso faz-nos bem, e sentimo-nos felizes…
FADA LUÍSA – Há bocado disseste que talvez pudéssemos ajudá-los…como?
FADA LUZ – Sim, podemos! Queres ajudar-me?
FADA LUÍSA – Está bem! Se eu souber como fazer…! Qual é a tua ideia?
FADA LUZ – Claro que sabes! A minha ideia é fazermos um bolo grande, para todos, com uns ingredientes especiais, que os vão fazer sorrir e rir muito!
FADA LUÍSA – Um bolo? Huummm…parece-me uma excelente ideia! Mas tem de ser apetitoso.  
FADA LUZ – De chocolate! É o ingrediente principal…além de ser delicioso, traz felicidade e boa disposição.
FADA LUÍSA – Sim, é verdade. E mais?
FADA LUZ – A massa vai ter…sorrisos, em pétalas, abraços e beijos em pó, gargalhadas em fermento…Huummm…mais…umas estrelas…bolinhas de riso…e…acho que não me estou a esquecer de nada!
FADA LUÍSA (sorri) – Huummm…que bom! Já estou com água na boca!
FADA LUZ (sorri) – Eu também! Já comeste esse bolo?
FADA LUÍSA (sorri) – Sim, já comi muitas vezes. Sempre que estou alterada, triste, chateada ou nervosa.
FADA LUZ (sorri) – Eu também. Então…mãos à obra.
FADA LUÍSA – Mãos à obra! Espera…onde vais buscar todos esses ingredientes?
FADA LUZ – Anda comigo!
NARRADORA – As duas fadas dão a mão, e vão para a praia buscar todos os ingredientes para o bolo que estão guardados num baú, dentro de uma árvore velha.
FADA LUÍSA – Ááááhhh…Nunca tinha entrado aqui!
FADA LUZ – Eu já! Entro muitas vezes.
FADA LUÍSA – Que linda!
FADA LUZ – Só eu sei deste lugar e do que aqui está!
FADA LUÍSA – É o teu refúgio?
FADA LUZ – Sim! Vá…ajuda-me a levar a caixa. Pega daí desse lado! Vamos precisar de tudo o que está aqui.
FADA LUÍSA – Está bem. Onde é a cozinha?
FADA LUZ – Vais já ver.
NARRADORA – As duas fadas transportam a caixa para uma cozinha entre rochas, e a fada acende a fogueira, debaixo do pote preto, antigo, onde vai ser feito o bolo. A fada está encantada.
FADA LUÍSA – Áh! Que cozinha tão linda!
FADA LUZ (sorri) Nunca tinhas entrado aqui?
FADA LUÍSA – Não!
FADA LUZ – Esta é uma cozinha comunitária, dos Índios, mas quase nunca vem aqui gente.
FADA LUÍSA (sorri) – É linda!
FADA LUZ (sorri) – Sim, é. Vamos lá então fazer o bolo.
NARRADORA – A Fada Luz começa a deitar os ingredientes, um por um, com muito carinho e delicadamente, mexe-os com elegância, e a outra fada ajuda. Enquanto as duas conversam alegremente, o bolo cresce, e deixa um aroma delicioso no ar, as fadas estão radiantes e saltitam de alegria. O bolo cresce ainda mais…
FADA LUZ – Está quase pronto.
FADA LUÍSA – Uau! Boa!
(As duas batem palminhas)
NARRADORA – E o bolo está pronto. As fadas tiram uma fatia e provam.
AS DUAS – Huummm…!
FADA LUÍSA – Que delícia.
FADA LUZ – Está óptimo, não está?
FADA LUÍSA – Mesmo tentador. E vamos deixá-lo na ilha?
FADA LUZ – Claro.
FADA LUÍSA – No pote?
FADA LUZ – Não…agora vamos pegar nele…tirá-lo do pote, e metê-lo ali na travessa!
FADA LUÍSA – ÁH! Está bem.
NARRADORA – As duas fadas pegam no bolo e põem-no na travessa. Levam-no para a ilha, e escondem-se. Pouco depois, todos os índios são despertados pelo cheiro irresistível do bolo. Reúnem-se à volta deste, e o índio chefe corta o bolo em fatias. Todos comem com vontade e deliciados, mais que uma fatia. Quando já estão satisfeitos, guardam o resto do bolo e de repente, as suas caras começam a mover-se sozinhas, a encolher-se, e a alargar a boca. Olham uns para os outros, muito assustados. Mas inesperadamente, começam a sorrir, a olhar uns para os outros. Depois…sem mais nem menos, atrás do sorriso, vem as gargalhadas, sem motivo, começando num, e os outros a seguir. As fadas riem também com vontade.
FADA LUZ (a rir) Ai, que gargalhadas tão engraçadas, já viste?
FADA LUÍSA (ri) – Pois é! São contagiosas.
FADA LUZ (a rir) – E que lindas, que são!
FADA LUÍSA (a rir) – Sim, são sem motivo, mas verdadeiras…são dadas com sinceridade e naturalidade!
FADA LUZ (a rir) – São mesmo. E essas são mesmo as mais bonitas, que deixam toda a gente realmente feliz…! Quem as dá, e quem as ouve…!
FADA LUÍSA (a rir) – É verdade!
FADA LUZ (a rir) – Aprenderam a rir, e a sorrir.
FADA LUÍSA (feliz) – Sim, foi mesmo!
FADA LUZ (orgulhosa) – O bolo funcionou mesmo.
FADA LUÍSA (orgulhosa) – Pois foi!
FADAS (felizes) – Boa!
(Abraçam-se)
FADA LUZ (sorridente) – Obrigada pela ajuda, amiga!
FADA LUÍSA (sorri) – De nada. Foi um prazer.
FADA LUZ – Aparece mais vezes por aqui.
FADA LUÍSA (sorri) Com certeza que sim! Passarei com muito gosto…e para a próxima, tens de ir também conhecer a minha casa…
FADA LUZ (sorri) Está combinado…é só aparecer por aqui, e dizeres quando queres que vá lá…
FADA LUÍSA (sorridente) Sim, eu venho-te buscar…! Até breve, amiga.
FADA LUZ (sorridente) – Até breve.
NARRADORA – A partir desse dia, as duas fadas tornaram-se grandes amigas, conviveram e brincaram juntas, aprenderam e ensinaram muita coisa uma à outra. A ilha nunca mais foi a mesma, porque os índios aprenderam a sorrir e a rir, com vontade, a brincar e a dançar. As caras de pau, tornaram-se caras de sorrisos, e palhacinhos, risonhos, sempre a trocar beijos e abraços. Tudo ficou muito mais feliz e divertido. Há muitas coisas que precisamos de aprender, ao longo da nossa vida, mas já nascemos a sorrir, e devemos sempre sorrir, assim como rir. Faz-nos bem à saúde, e faz-nos sentir mais vivos, mais felizes. Não se esqueçam de sorrir e de rir sempre! Muitas vezes por dia, sozinhos ou acompanhados, com motivo ou sem motivo. E não se esqueçam de abraçar e de beijar.

FIM
Lálá
23/Dezembro/2013



domingo, 22 de dezembro de 2013

TULIPAS SURPRESA

Foto de Lara Rocha 

       Era uma vez uma casa que tinha um jardim. Nesse jardim havia muitas flores, e entre elas lindas tulipas de muitas cores, que abriam e fechavam. A menina da casa, ficava muitas vezes pensativa, e a perguntar-se porque é que ela umas vezes via as tulipas abertas, e outras vezes, estavam fechadas. Um dia, choveu muito, e as tulipas estavam abertas, por isso, as gotas da chuva entraram…milhares delas para cada copo de tulipa.
- As flores vão afogar com tanta água! - comenta a menina preocupada 
- Não vão nada! - diz a mãe 
- Mas está a chover muito, e as flores estão abertas! 
- Não faz mal, filha... quando o sol voltar, as flores secam. Elas também precisam de água. 
- Sim, mas esta é muita água, não sei se vão aguentar. 
- Claro que vão aguentar. Já estão preparadas para isso! 
- Que giras! Parecem copinhos cheios de água. Será que se pode ver a água através delas, com o sol a dar-lhes? Como acontece com os frascos e com os nossos copos transparentes, ou de plástico? 
- Sim, é possível que sim! Depois experimentas. 
        A menina continua continua a ver chover, e a tentar imaginar o que teriam as flores, e porque estariam abertas. Ela pensava: se estava a chover tanto, as flores deviam estar fechadas, como fazemos nas nossas casas com as janelas e as portas...mas estão abertas... e... para onde irá a água...? Parou de chover, e a menina pergunta: 
- Mãe, parou de chover...posso ir lá para fora? 
- O que vais fazer lá para fora? Está tudo molhado! 
- Mas quero ir ver uma coisa. 
- Está bem, mas agasalha-te e leva as galochas. 
- Está bem. 
       A menina prepara-se e sai para o jardim. Já está sol, mas estava mesmo tudo cheio de lama. E as flores...umas estavam abertas...outras estavam fechadas. Porque seria? A menina corre todas as flores, e ela tinha razão: a água via-se através das flores que estavam fechadas, onde dava o sol. 
- Áh! Que lindo! - diz a menina a sorrir 
       Ela toca numa flor fechada, e de repente, a flor abre-se, saltando de lá uma borboleta feita de gotas de água, e voa. A menina nunca tinha visto aquilo, e abre um enorme sorriso. 
- Áh! Uma borboleta feita de gotas de água...que linda! Nunca tinha visto. Olá! 
- Olá! - diz a borboleta a sorrir 
- Vives aí? - pergunta a menina 
- Não! Só vim hoje. 
- E o que vieste fazer? 
- Vim conhecer outros jardins...o teu é muito bonito! 
- Obrigada. E como vieste aqui parar? 
- Vim de boleia com as nuvens. 
- Áh! E onde vives? 
- Vivo lá em cima, mas venho muitas vezes cá abaixo! 
- Lá em cima onde? 
- Ali, muito lá em cima...nas nuvens. 
- Áh! Nunca lá fui. 
- Claro, os humanos não conseguem viver lá...só nós. 
- És feita de quê? 
- De gotas de água, como podes ver! 
- De gotas de água...? E não te desfazes, se eu te tocar? 
- Não! As gotas de água são o meu esqueleto...
- E vocês também têm esqueleto? 
- Sim, temos...não é feito de ossos como o vosso, mas são as gotas de água que nos sustentam. 
- Que linda que és! 
- Obrigada. Vou ver o resto do jardim! 
- Está bem, bom passeio. 
       A borboleta continua a passear. Noutra flor, fechada, com as gotas por cima, nas pétalas, a menina sopra, e a flor abre-se. De lá saem várias fadas com instrumentos musicais, todos diferentes, e tudo feito de gotas de água. A menina fica surpresa e encantada. 
      As fadas começam a tocar nos instrumentos, e brilham com o sol. Correm todo o jardim a tocar, e todas as outras flores que estavam fechadas, abrem-se, ao som dos diferentes instrumentos. 
     Aparecem meninas bailarinas, pequenas índias, pássaros, mais borboletas, sereias, focas, pinguins, pequeninos ursinhos, joaninhas, gatinhos, ovelhas, princesas, fadas e dragões...tudo feito de gotas de água. 
     Caminham felizes pelo jardim, e desafiam a menina para dançar. As fadas tocam, e os outros dançam alegremente, com a menina. E todas as gotas brilham ao sol. A mãe vê a menina em movimento, e pequeninos brilhantes a voar. 
- O que é aquilo? - diz a mãe, e abre a porta 
- Mãe, anda conhecer os meus novos amigos, feitos de gotas de água, que vivem nas nuvens e vieram conhecer o nosso jardim. Estavam dentro das tulipas fechadas. Olha que bonitos! 
- Áh! Nunca tinha visto nada assim. Que lindo! Que orquestra maravilhosa...e como dançam. Sejam muito bem vindos ao nosso jardim, e apareçam quando quiserem. 
- Obrigada! - dizem todos com um sorriso
- Já vão embora? - pergunta a menina 
- Vamo-nos recolher. - diz a fada do trompete 
- Vai para casa! Não demora muito para vir uma tempestade! 
- Uma tempestade? - perguntam mãe e menina 
- Sim! - respondem todos 
- Demora menos de 5 minutos! - diz a borboleta 
- Como é que sabem? - pergunta a mãe 
- Recebemos os sinais nas nossas asas - assegura a fada cantora
- São melhores do que meteorologistas. Obrigada, até já. - diz a mãe 
- Até já. - retribuem todos 
        Mãe e filha vão para casa. Eles tinham toda a razão, em menos de cinco minutos, todos voltam a esconder-se. Uns, numa velha árvore cheia de buracos que havia no jardim, e outros, debaixo das flores. Chega uma enorme tempestade. Desde esse dia, a menina recebeu a visita dos amigos feitos de gotas de água que brincavam com ela, e traziam outros. Mas que grande surpresa estas tulipas! 
        E vocês? Já tiveram tulipas de onde saltaram surpresas? Imaginem que tinham no vosso jardim, tulipas com surpresas...o que teriam essas tulipas? Escrevam ou desenhem essas surpresas. 
                                                       
                                                             FIM
                                                              Lálá

                                               (22/Dezembro/2013) 

quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

O refúgio do elfo



NARRADORA - Era uma vez um pequenino elfo que foi passear, pela floresta, num dia muito quente de Verão. Saiu de manhã bem cedo, com uma aragem fresca. Estava tão encantado com tudo o que viu pelo caminho que foi andando e…perdeu-se.
ELFO – Ai! Está tanto calor! Como é que saí tão cedo com a fresca, e agora está um calor…ufa! Como é que eu andei tanto? Mas…onde é que eu estou? Andei tanto que não sei onde estou! Óh! Onde vim parar? Será que estou muito longe de casa? Nada me é familiar. Óh…e agora? Ai, ai, ai…! Acho que vou perguntar a alguém. Eiii…alguém…! Será que não vive aqui ninguém? Onde estão todos? Devem estar recolhidos por causa do calor.
(Um macaco malandreco, faz uma careta barulhenta ao Elfo e ri-se, pendurado na árvore)
MACACO (a rir) – Olha, olha…um orelhudo, de orelhas em bico, com medo! Ih, ih, ih…
ELFO – Estás a falar comigo?
MACACO (a rir) – Há mais alguém aqui orelhudo, de orelhas em bico?
ELFO – Acho que te referes a mim.
MACACO – Pois claro.
ELFO – Mas que atrevido…não estás a ser muito simpático.
MACACO – Ora essa…não tenho que ser simpático com toda a gente…muito menos, com quem não conheço. Tu és novo aqui, não és?
ELFO – Sim, sou.
MACACO – Huummm…fazes-me lembrar alguém…! Assim de repente…Huummm…umas miúdas jeitosa que às vezes aparecem por aqui. Umas com asas…
ELFO – Acho que estás a falar das minhas primas fadas.
(O macaco endireita-se, e desce)
MACACO (espantado) – Óh, isso mesmo…as fadas. Espera aí…tu conhece-las?
ELFO – Claro que conheço. E tu?
MACACO (sorri) – Óh, sim, com muito gosto. Mas…tu és uma fada?
ELFO – Não…sou um elfo. Sou homem.
MACACO – Homem?
ELFO – Sim, homem.
MACACO – Estou a ver…
(Passa um coelho a correr e grita)
COELHO – Bom dia!
OS DOIS – Bom dia!
MACACO – (grita) Força…Vai amigo! Enquanto está fresco!
COELHO (sempre a correr) – Sim, hoje o dia promete. (e acelera)
MACACO - Lá vai o pé de speed fazer a maratona dele de manhã como sempre… (ri) É um grande desportista este coelho.
ELFO – Sabes dizer-me onde estou?
MACACO – Estás no vale das palmeiras.
ELFO – Vale das palmeiras?
MACACO – Sim.
ELFO – Mas eu não conheço este sítio!
MACACO – Tens a certeza?
ELFO – Tenho.
MACACO – Disseste que te perdeste, não foi?
ELFO – Acho que sim.
MACACO – E porque é que te perdeste?
ELFO – Acho que me distraí com tantas coisas bonitas que vi pelo caminho!
MACACO – Mas não sabias onde vinhas?
ELFO – Não…eu não tinha pensado para onde vinha…apenas…vinha por aqui! Mas parece que andei demais.
MACACO – Mas onde moras?
ELFO – No vale dos cristais.
MACACO – Huummm…esse nome não me é estranho, mas acho que nunca lá fui.
ELFO – Podia ter perguntado ao coelho.
MACACO – Pois era, de certeza que ele sabia.
ELFO – Achas?
MACACO – Sim…anda sempre por aí…parece que está ligado à electricidade…até faz impressão. Fico cansado só de o ver passar a correr. Detesto correr, e tu?
ELFO – Eu também…quer dizer…às vezes também corro, mas geralmente ando ou voo.
MACACO – Áh…pois…tu tens asas, eu não. Onde as arranjaste?
ELFO – Já nasci com elas…
MACACO – Áh!
(O coelho pára mais adiante, de repente. Volta para trás muito intrigado e vai ter com o elfo)
MACACO – Então…? Hoje o teu motor não dá mais? Acabou a gasolina?
(O coelho ri)
COELHO – Não. Voltei para trás porque…tens um novo amigo é?
MACACO (sorri) – Este é amigo das fadas…! Aquelas miúdas sexys que passam por aqui.
COELHO (sorri) – Óh, mas que sorte a tua, rapaz…mas, e quem és tu? Nunca te vi por aqui, mas acho que a tua cara não me é estranha.
ELFO – Sou um elfo. Vivo no vale dos cristais. Sabes onde fica?
COELHO – Óh…sim, sei muito bem, vou lá quase todos os dias, e hoje já vinha de lá.
MACACO (ri) – Eu não te disse que ele sabia? Eu disse…!
COELHO (ri) – Claro que sim…eu ando sempre por aí. Tenho de fazer a minha ginástica. E tu, rapaz…o que fazes por aqui?
ELFO – Vim passear, e acho que estou perdido.
MACACO – Os seus olhos ficaram presos na paisagem!
ELFO – Como assim? Os meus olhos estão no sítio.
MACACO (ri) – O que eu quero dizer é que ficaste tão encantado com a paisagem que viste pelo caminho, que te distraíste…e os teus olhos queriam ficar naqueles sítios.
ELFO (sorri) – Áh, sim! É verdade. Mas, então podes-me indicar o caminho de volta para casa.
COELHO – Claro que sim, mas porque não descansas um pouco, refrescas-te e vais quando estiveres retemperado?
ELFO – Sim, acho que tens toda a razão! Sabes onde posso fazer isso?
COELHO – Sei. Ali, no morangal.
ELFO – Huummm…no morangal?
COELHO – Sim, é onde as tuas primas se refugiam.
ELFO – Áh! É?
COELHO – Sim, é…às vezes estão lá às centenas.
ELFO – E o que fazem lá?
COELHO – Ai, isso é com elas! Sei que já as vi a descansar, a tomar chás e refrescos de morango, sempre às gargalhadas, descansam, dançam, brincam…e não sei o que mais!
ELFO – No morangal?
COELHO – Sim. É um sítio fabuloso. Está-se lá que é uma maravilha.
ELFO – Estou a ver os morangos.
COELHO – São deliciosos, e lá é um local fresco. Quando quiseres ir para casa, chama-me e eu levo-te.
ELFO (sorri) – Muito obrigada.
COELHO – Até já.
ELFO – Até já.
COELHO – Descansa.
NARRADORA – E o elfo vai para o morangal. Quando entra, fica deliciado com o que vê…morangos enormes, cheios de sumo, com folhas gigantes, frescas que fazem sombra, uma fonte de água. Ele dá uma trinca num morango apetitoso e come maravilhado. O morango grita:
MORANGO - Ai, que bruto!
ELFO – Huummm…que delícia. Óh…desculpa. Estou cheio de fome e sede, e és tão delicioso, apetitoso…
MORANGO – Eu sei que sim, e já estou habituado às dentadas, mas podias ser mais delicado a dar a dentada! Se fosses uma fada, tudo era diferente.
ELFO – Era diferente porquê? Elas são fadas, eu sou elfo!
MORANGO – São da tua família, não são?
ELFO – Sim. Mas o que é que isso quer dizer?
MORANGO – Quer dizer que devias ser mais delicado como elas a dar as trincas em mim e nos outros.
ELFO – Elas dão-te trincas?
MORANGO – Dão. Bem carinhosas.
ELFO – São meninas.
MORANGO – Pois, faz toda a diferença, mas podes aprender com elas.
ELFO – Não. Não quero aprender com elas, nem tenho nada que ser como elas.
MORANGOS – Não sabes o que perdes. Se fosses mais como elas, conquistavas todas as meninas que querias!
ELFO – Achas?
MORANGO – Tenho a certeza.
ELFO – Huummm…vou pensar nisso! Depois de descansar, está bem?
MORANGO – Está bem.
NARRADORA – Que rica soneca que ele dormiu! Quando acordou, o coelho já lá estava e foram juntos para o vale dos cristais, a conversar alegremente e a rir. Finalmente o Elfo regressa à sua casa, com a família já preocupada, e convidam o coelho para entrar. O coelho entra e é apresentado a toda a família. Depois de lanchar, volta para casa. A partir deste dia, o Elfo vai todos os dias para o seu refúgio no morangal, onde se encontra com as suas primas e amigas, onde descansa e refresca-se em paz, relaxa, e dorme a sesta na relva fofa debaixo dos morangos. Às vezes também vai para lá pensar, reflectir, tomar decisões importantes e difíceis, e escrever. Todos juntos, fazem serões neste refúgio, muito divertidos, poéticos, artísticos, e musicais. Todos temos necessidade de nos refugiarmos um pouco…desligarmo-nos da agitação do dia-a-dia, e passearmos um pouco, em paz, sem pressa, pelo nosso refúgio secreto, umas vezes verdadeiro, e acessível, outras vezes…mais distante ou criado por nós, ditado pela nossa criança interior. E o vosso refúgio, como é?

FIM
Lálá
(19/Dezembro/2013)