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sábado, 30 de novembro de 2013

Os sapatos

foto e sapatinhos de Lara Rocha 

Uma noite houve um baile de sapatos, enquanto as pessoas a quem pertenciam, também festejavam na festa da noite descalça.
Havia sapatos grandes, médios e pequenos, sapatos baixos, sapatos de tacão alto, sapatilhas, botas, sandálias e chinelos.
Nesse baile, todos os sapatos dançaram…e que grande diversão, que se transformou numa enorme confusão!
Os sapatos grandes dançaram com os chinelos, com as sandálias e com as botas.
As botas dançaram com os sapatos de tacão alto.
Os sapatos de tacão alto dançaram com as sapatilhas.
As sapatilhas dançaram com os sapatos baixos.
As sandálias dançaram com os chinelos.
O baile foi interrompido pelas pessoas a quem pertenciam os sapatos, os chinelos, as botas, as sapatilhas e as sandálias.
Cada um procurou os seus calçados, mas estavam todos misturados, e como estava escuro, não viram…pensavam que estavam como os deixaram.
Procuraram-nos com as mãos, para tentar descobrir e todos calçaram sapatos trocados.
Umas senhoras tinham num pé…sapato de tacão alto e no outro, uma sandália.
Outras senhoras calçaram um sapato baixo e um chinelo.
Outras senhoras calçaram uma sapatilha e uma sandália.
Uns senhores calçaram sandálias num pé e chinelo no outro, bota de senhora num pé, e sapato baixo de senhora no outro pé.
Outros senhores calçaram um sapato de tacão alto e botas de senhora de tacão alto, que até tropeçaram quando andaram com eles.
Outros calçaram chinelo e sapatilhas, outros, botas e sandálias, outros botas e chinelos, outros um sapato e uma sapatilha, uma bota e uma sapatilha…foi o que as suas mãos encontraram.
Uns calçaram tamanhos acima do seu, outros calçaram tamanhos abaixo do seu, e cores diferentes.
Estava tudo misturado! Sentiam-se muito estranhos. Nenhum conseguia andar direito.
Quando foram para um sítio com luz, olharam para os pés uns dos outros.
- Ei…esses são os meus!
- Como é que tens um sapato meu, num pé, e outro de outra pessoa no outro pé?
- Onde está o par?
- Quem é que tem os meus sapatos…? Está um no pé daquele, e o outro?
- Mas que atrevimento, menina…como é que pegaste nas minhas sandálias?
- Desculpa, não sabia que tinha as tuas sandálias. Só vi agora. E onde estão as minhas?
- Dá cá isso, já…as tuas devem estar noutro pé…estão…
- Aqui!
- Áh!
- Tira já as minhas sandálias dos teus pés mal cheirosos.
- Ei, se aqui pés que cheiram mal são os teus, porque pus pó de talco nos meus.
- São os meus, que cheiram mal…desculpem!
- Ui.
- Não lavas esses chinelos há quantos anos?
- Lavo, mas tenho um suor muito forte! Desculpem.
- Que nojo. Não me devolvas esses chinelos que calçaste…e que são meus…antes de os lavares…!
- Está bem. Desculpa.
- Sou eu que tenho os chinelos fedorentos. Que porcaria…onde estão os meus sapatos?
- Devem ser estes!
- Porque é que os calçaste?
- Não vi…pensei que eram os meus. E os meus…? Estão nos pés daquela senhora.
- Ai, que horror!
- Onde estão as minhas sandálias? Áh…estão ali…óh ruiva, tira já as minhas sandálias desses teus pés.
- Fica descansada que eu não tenho pulgas, nem sarna.
- Não interessa…essas sandálias não te pertencem.
- Já sei. Também não as queria…são feias!
- Ainda bem que as achas feias.
- Dá cá isso…!
E todos começam a discutir e a enfrentarem-se, a tirar os calçados, e atiram para o centro do jardim.
- Está tudo mal!
- Vamos mas é pôr isto direito!  
- Vamos.
Cada um procura o seu, e o par.
Mas que grande agitação e confusão.
Cor, com cor, tamanho com tamanho, forma com forma, tacão com tacão…Ufa!
Que grande trapalhada.
Nunca outra tinha acontecido.
Depois de cada pessoa ter encontrado o seu calçado, direito, todos riem à gargalhada.
- Parecíamos um enxame de abelhas…!
- Que grandes malucos!
Pedem desculpa, e abraçam-se uns aos outros, trocam elogios, e beijos.
Vão para casa. Eles nunca saberão que toda aquela confusão foi por causa do baile dos sapatos.

FIM
Lálá

(27/Novembro/2013)

domingo, 24 de novembro de 2013

A menina da paz

Era uma vez uma cidade onde havia Guerra. As manhãs nasciam com tiros, com sirenes de polícia e ambulâncias, gritos, fugas, e medo constante.
Um dia, uma menina recebeu poderes especiais, enquanto dormia, de um ser muito especial. Um Anjo que a iluminou. Ela abre os olhos, e vê o anjo assustada.
- Quem és tu?
- Calma, não te assustes. Sou do bem!
- Que bem?
- Da bondade…da paz.
- Isso é o que falta nesta cidade, infelizmente.
- Sou um anjo.
- Então estás aqui para me proteger?
- Também, mas não é só!
- Então?
- Vim trazer-te uma missão muito especial.
- Uma missão? Mas…
- Sim, és tu! Esta missão é para ti.
- Ai…! Estou a ficar assustada.
- Não te preocupes. É para algo que já desejas há muito.
- Paz!
- Isso mesmo. Tu vais ser a menina da Paz.
- Como?
- Tu serás o símbolo da paz.
- Mas o símbolo da paz não é uma pomba?
- Sim, é…mas aqui, serás tu.
- Ai!
- Não tenhas medo.
- Mas porque é que me escolheram a mim…? Eu sempre quis fazer alguma coisa pela paz, mas nunca posso.
- Podes, sim. É por isso mesmo que vim até ti, porque tu sempre quiseste paz, e sempre fizeste por ela.
- Certo, mas de que adiantou eu fazer pela paz, e desejá-la, se tudo à minha volta explode, e ouvem-se tiros a toda a hora, gente a fugir…? O que posso fazer?
- Deixa-me explicar-te.
- Está bem. Estou a ouvir.
- Recebeste uns poderes especiais, de coragem, de luz e bondade.
- A sério? (sorri) E o que é que eu vou fazer com eles?
- Tu vais ser a menina da paz, porque vais acabar com a guerra.
- Eu?
- Sim! Tu!
- Como? Vou matar todos os criminosos?
(O anjo ri)
- Não, querida…não precisas de chegar tão longe.
O anjo explica tudo. A menina ouve atentamente, e dorme. Na manhã seguinte, a guerra do costume recomeça. A menina acorda sobressaltada. Toma o pequeno-almoço, veste-se e vai para a rua.
Quando vê um batalhão de soldados armados até aos pés, e com caras de maus, a dirigirem-se para os canhões, prontos a disparar…a mando de um todo-poderoso, para acabar com bairros de lata…as pessoas em pânico, a gritar e a fugir, a rezar, com os filhos ao colo e a rastos, a chorar…Dirige-se para eles e grita-lhes:
- Parem imediatamente!
        Os soldados olham-na.
- Olha a pimpolha…sai daqui, criatura, senão és a primeira a ir pelos ares…tu e os teus papás… - Grita o soldado da frente.
- Vai para a tua casa…sai da nossa frente, temos mais o que fazer. – Grita outro soldado.
- Ninguém vai disparar nada…! – Grita a menina.
- Mas quem é que manda? – Pergunta outro soldado zangado.
- Primeiro vais ouvir o que eu tenho a dizer!
- O quê? Vais contar-me uma historinha ou pedir-me algum brinquedo? – Diz o soldado a rir
- Ri-te…! Goza à vontade! – Diz a menina.
- Sai mas é da frente, pirralha. – Diz o soldado.
- Nem pensem que vão dar mais um passo com essa porcaria dessas armas. – Grita a menina
- O quê? – Gritam os soldados em coro.
- Da próxima vez que gritarem será…PAZ…! Ou…palavras de amor.
- Não faltava mais nada…Uma freira em miniatura. – Diz um soldado.
- Descansa…o teu lugar está guardado no Inferno para a tua alma, não tarda muito. E até aqui na terra, ela já está no Inferno.
- O que é que tu queres…? – Pergunta outro soldado.
- Quero que atirem as armas todas ao chão, e que acabem com a porcaria dos tiros, e da destruição.
- Deves estar a brincar! – Grita um soldado.
- Vai brincar para o parque! – Grita outro soldado.
- Esse é um direito nosso, que vocês fizeram o favor de nos tirar, suas bestas. Tiraram-nos o direito de brincar, o direito de andar em paz e em segurança na rua, sem nos arriscarmos a levar com uma bala vossa…estão a roubar agora o direito de todos termos uma casa, mesmo pobre…é uma casa, um tecto, construído com amor…!
        Ela anda em frente deles todos, a olhá-los nos olhos. Um olhar tão profundo e penetrante, que todos os soldados começam a chorar.
- Tiraram-nos o direito de ouvir o som dos pássaros a cantar com os primeiros raios de sol…! Há quanto tempo não os ouvem a cantar? Há muito…desde que os mataram…que culpa é que eles tiveram? - Olha-os outra vez nos olhos, um por um – Tiraram-nos o direito a termos um sono tranquilo, um dia a dia em paz…vocês…que deviam ser nossos amigos, são os nossos piores pesadelos…! Mas as vossas famílias, os que mais amam, também correrão perigo, não? Se os perderem, não há problema não é? O que importa é que vocês são valentes…têm pistolas…Uau…que poderosos…que prestigio! São felizes? Têm a consciência tranquila? Como? Depois de acabaram com a vida de cada um…de todos aqueles inocentes a quem vocês tiraram um direito…tão essencial e especial…à vida! À família, a uma casa, a um trabalho, ao respeito, à saúde, às actividades ao ar livre! Pensem…!
        Faz-se silêncio, e a menina olha outra vez, um por um, os soldados, nos olhos, e eles choram sem parar.
- Em vez de estarem com armas…usem as vossas mãos para reconstruir e construir as milhares de casas que destruíram…! E que continuam a querer destruir…não têm esse direito! Usem as vossas mãos para dar colo, e para abraçar ou acariciar as crianças, os doentes e os feridos que vocês causaram! Usem as vossas vozes para encorajar os que sofrem por vossa causa! – Acrescenta a menina.
        O soldado da frente, ajoelha-se cheio de lágrimas, pousa as armas, a olhar para o chão. Os outros todos seguem-lhe o exemplo, rendidos à emoção, e ao apelo da menina.
- Mas que grande desgosto para os vossos pais! Peçam-lhes desculpa…assim que os encontrarem, se ainda estão cá. Que tormenta para as vossas namoradas ou mulheres…filhos…ao saber que estão com umas bestas ao lado, em vez de estarem com homens! Em vez de estarem com homens de carne e osso, e coração, e sentimentos…têm robôs…de lata…secos…que tristeza! Peçam-lhes desculpa. E em vez de terem nas mãos essas pistolas…ofereçam-lhes flores, façam-lhes carinhos, abracem-nas…digam-lhes que as amam.
        Os soldados estão muito emocionados, e choram de verdade. Largam as armas todos, atiram-nas para o monte. Um soldado pega na menina ao colo, e todos formam um túnel de mãos dadas em cima. Quando a menina passa, cada soldado dá-lhe um beijo. Ela sorri orgulhosa, e no fim aplaude. Todos os soldados aplaudem e gritam pelas ruas, com a menina às cavalitas:
- Paz…paz…paz…acabou a guerra! Paz!
- Podem sair de casa…acabou a guerra…venham festejar. – Grita o soldado chefe.
        Todos os habitantes saem das casas, com muito medo, e quando vêem os soldados com uma menina ao colo gritam felizes:
- Milagre! Milagre! Milagre!
- Acabou a Guerra, minha gente! – Grita outro soldado.
- Milagre! Milagre! Milagre!
        Todos festejam juntos, com música, cantigas, abraços, beijos…
- A partir de agora, estamos em paz. – Diz um soldado.
- Seremos só vossos amigos, para tudo o que precisarem! – Diz outro soldado.
- Pedimos perdão por todos os estragos e desgostos que provocamos. – Acrescenta outro soldado.
- Esta é a nossa menina da paz.
        Todos aplaudem fortemente, gritam felizes, beijam, abraçam e acariciam a menina, e os soldados, e nesse mesmo dia, todos ajudam a reconstruir as casas, com os soldados, que fazem curativos a quem precisa. A menina também colabora e os seus pais não cabem neles de orgulho e de felicidade. O sonho da menina tornou-se realidade…conseguiu que houvesse paz, e que a Guerra acabasse. Ficou para sempre conhecida como a menina da Paz, pela sua força e luz.
FIM
Lálá
(23/Novembro/2013)


quarta-feira, 20 de novembro de 2013

A amiga nuvem

foto de Lara Rocha 

  Era uma vez uma nuvem muito fofa e leve, branca, que caiu do céu, numa terrível tempestade.
Ela não sabia para onde ia, mas também não conseguiu parar, enquanto era levada pelo vento e empurrada pela chuva que caía sem parar.
Não podia lutar…desceu, desceu, desceu…depressa e muito assustada até que aterrou em cima de neve, à porta de casa de uma família.
       Uma menina pequenina estava à janela e viu alguma coisa a cair no seu jardim, mas pensou que era um floco de neve.
De repente…falhou a luz com um enorme trovão que iluminou o céu. A menina estremeceu e gritou, e meteu-se debaixo da cama muito assustada.
Os seus pais mandaram-na para a cama, e deitaram-na, porque a luz não voltou nessa noite.
A menina estava tão assustada que mesmo deitada e coberta quase até às orelhas, não conseguia dormir. Os seus olhos quase saiam de órbita, de tão abertos que estavam, e os seus ouvidos até saltavam sempre que ouviam trovões. Ela encolhia-se toda. Tentava pensar noutras coisas, como a sua mãe e a sua avó lhe ensinaram, mas não conseguia.
A nuvem estava também muito assustada e cheia de frio. Bateu à porta da janela do quarto da menina, para pedir ajuda. A menina vê-a, e dá um grito debaixo dos lençóis.
- O que é aquilo…? Aquela coisa branca na janela…com olhos…ai…que medo!
       A nuvem bate no vidro da janela, e grita:
- Ajuda-me…deixa-me entrar…por favor.
- A coisa branca fala…? Ai…ai, ai…!
    Levanta-se da cama para ver o que era, com o corpo todo a tremer. Ela vê que é uma nuvem. Abre a janela e diz:
- Entra!
      A nuvem entra, sorri, a menina fecha a janela rapidamente, e as duas olham-se muito espantadas.
- Quem és tu? – Perguntam as duas em coro, uma à outra.
- Sou uma menina.
- Eu sou uma nuvem.
- Uma nuvem?
- Sim! Uma nuvem.
- Mas não devias estar lá em cima?
- Sim, e estava, mas a chuva e o vento empurraram-me cá para baixo. Eu cai no teu jardim, que está cheio de neve.
- Óh…coitadinha. Magoaste-te?
- Não. Caí em cima da neve. Por favor, deixa-me ficar aqui no teu quarto ou noutro sítio qualquer…só para me aquecer um bocadinho.
- Claro que sim. Vou arranjar-te uma cama muito confortável.
- Boa! Obrigada…!
    A menina pega num lençol, e põe no chão em cima de um cobertor, quente, grosso e fofo. Por cima do lençol põe mais cobertores.
- Se precisares de mais roupa diz-me.
- Óh. Muito obrigada. Está ótimo. Áh! Está-se mesmo bem aqui. Lá fora está tanto frio…!
- Pois é. Se não te importas vou-me deitar, mas viro-me para ti, está bem? É que está muito frio…
- Claro que sim. À vontade.
      As duas deitam-se, cada uma na sua cama, e viradas uma para a outra.
- Estás bem assim?
- Estou ótima. Muito obrigada!
      Passado um bocadinho, as duas começam a falar. A nuvem conta à menina como é que ela vive lá em cima, e a menina conta à nuvem como é que ela vive ali. Aprendem muito uma com a outra e riem.
- Como vais voltar lá para cima? – Pergunta a menina
- Não sei…acho que nunca mais conseguirei ir lá para cima…!
- Óh…mas isso é muito triste!
       Entra uma estrelinha no quarto. As duas ficam maravilhadas.
- Áhhh…! Que linda! – Dizem as duas em coro
- Uma estrela! – Diz a menina a sorrir.
- Boa noite! Sim, sou uma estrela. Sempre que quiseres ir lá cima, eu levo-te!
- Ááááááhhhh…! Boa! – Gritam as duas, de alegria.
- Muito obrigada. – Diz a nuvem.
     E a partir dessa noite, a menina e a nuvem tornam-se as melhores amigas uma da outra, quase como irmãs. Brincam, riem, conversam, e dormem no mesmo quarto. Quando a nuvem tem saudades, pede à estrela que a leve, a quando quer, volta a descer.  

Fim
Lara Rocha 
19/Novembro/2013

terça-feira, 19 de novembro de 2013

BAILE DE SONHOS


Uma gota de água sonhou que era um rio.
Um rio sonhou com uma gota de água que estava apaixonada pelo rio.
Um rio sonhou que um barco se afundou nas suas águas, e que nesse barco havia uma sereia, que o levou para o mar.
O mar sonhou com uma sereia que tinha fugido do mar porque se tinha apaixonado por um marinheiro.
Um marinheiro sonhou que tinha encontrado uma sereia.
Uma sereia sonhou que encontrou um marinheiro e que se transformou num tesouro.
Um tesouro sonhou que tinha encontrado uma pérola.
Uma pérola sonhou que tinha encontrado uma casa.
Uma casa vazia, sonhou que foi habitada e mobilada.
Uma mobília sonhou que ganhou um prémio.
Um prémio sonhou que não gostou do vencedor, e fugiu.
O vencedor sonhou que o seu prémio foi entregue a outra pessoa.
Outra pessoa sonhou que o seu quarto se transformou num espaço.
O espaço sonhou que todas as suas estrelas tinham desaparecido.
As estrelas desaparecidas sonharam que se transformaram em planetas.
Os planetas sonharam que se transformaram em terra.
A terra sonhou que se transformou no sol.
O sol sonhou que derreteu e que se transformou em nuvem.
As nuvens sonharam que se transformaram em pássaros e voaram.
Os pássaros sonharam que tinham ganho pernas, e que andavam pelos telhados.
Os telhados sonharam que foram invadidos por gatos.
Os gatos sonharam que ganharam asas, e que voaram.
As asas sonharam que se desprenderam dos pássaros, e aterraram no chão do quarto de uma menina.
Uma menina sonhou que a guerra acabou, e que ela era a princesa da paz.
A paz sonhou que se transformou num vulcão, e que explodiu por todo o mundo.
O mundo sonhou que o dia se transformou em noite, e que à noite ia haver um baile.
No baile, encontraram-se todos os sonhos: a gota de água, o rio, o barco, a sereia, o mar…o marinheiro, o tesouro, a pérola, a casa…a mobília, o prémio, o vencedor, o outro vencedor, outra pessoa, o espaço, as estrelas, os planetas, a terra…as nuvens, os pássaros, as pernas, os telhados, os gatos, as asas, o quarto da menina, a menina…a paz, a princesa da paz, o vulcão, o mundo, a noite…
Todos se misturaram e dançaram, numa enorme sala de baile, em forma de lua, com os meninos deitados na sua cama, a ver.
Boa Noite!

FIM
Lálá

(19/Novembro/2013) 

sábado, 16 de novembro de 2013

A menina que não queria cortar o cabelo



















Era uma vez uma menina pequenina, que se chamava Luísa, e tinha um cabelo enorme, preto. Tão enorme que quase arrastava no chão. Muitas vezes ela usava-o preso, com um rabo-de-cavalo, uma trança ou dois totós.
         Sempre que lhe tentavam cortar o enorme cabelo, ela gritava muito, chorava e fugia, dava pontapés a quem a segurasse e agarrava nos cabelos. Ninguém percebia porque fazia isso, nem conseguiam convencê-la a cortar o cabelo.
         Um dia, a menina deitou-se a descansar à sombra de uma árvore, e os seus enormes cabelos ficaram pousados no chão. Enquanto ela adormeceu, uns gatinhos pequeninos e uns passarinhos resolveram brincar em cima dos cabelos da menina, sem saber que eram cabelos.
Correram alegremente, saltaram e como escorregavam, prendiam as garras nos cabelos e enrodilharam-nos todos. O cabelo ficou cheio de nós, todo despenteado e entrelaçado, com lixo e paus espetados entre cabelos.
Quando a menina acordou, brincou com os gatinhos e com os passarinhos, sem ver como estava o seu cabelo. Chegou a casa, e todos os seus familiares gritaram com o susto, ao ver o seu cabelo.
- Ááááááááhhhhhh…!
- O que foi? – Perguntou a menina espantada.
- O que aconteceu aos teus cabelos, Luísa? – Perguntou a irmã mais velha, Sara.
- O que é que têm os meus cabelos? – Pergunta Luísa.
- Parecem ninhos de ratos – Responde o pai de Luísa.
         Luísa olha-se ao espelho e quando vê o seu cabelo, grita.
- Nããããããããooooooo! Não pode ser!
- Onde estiveste? – Pergunta a mãe
- Estive a dormir debaixo de uma árvore.
- E como é que o teu cabelo ficou assim? – Pergunta a irmã Daniela
- Não sei!
- Queres ver que foi a árvore que esteve a brincar com os teus cabelos…? – Diz a outra irmã a seguir a ela.
- Não pode ser.
- Porque não? – Pergunta a irmã Rafaela
- Porque as árvores não têm mãos para mexer nos cabelos! – Responde Luísa.
- Não sei como ficou assim. Agora vais ter de o lavar…está com um cheiro…a… - Diz a Mãe
- Chichi de gato! – Diz o irmão Gabriel que é veterinário.
- Gato? – Perguntam todos.
- Sim! Gato.
- Óh, não…será que foram aqueles gatinhos que brincaram comigo? – Pergunta Luísa
- Estiveste a brincar com gatos? – Pergunta o pai
- Estive! Uns gatinhos bebés e uns passarinhos.
- Fizeram ninhos nos teus cabelos! – Responde Sara
- Se ficasses lá fora, eles até dormiam nos teus cabelos. – Acrescenta Daniela.
- Óh não…como é que eles fizeram isto?
- Com as garras…com o que seria mais? – Diz a mãe
- Que porcaria! – Diz Luísa.
- Vamos ao banho imediatamente. – Ordena a mãe
         A menina vai ao banho, e grita, porque a mãe tenta desfazer os nós dos seus cabelos para lavar, mas não consegue.
- Vou ter que te cortar o cabelo! – Diz a mãe.
- Não…! – Grita Luísa a chorar.
- Tem de ser…!
- Não…! Eu não quero cortar o cabelo.
- Mas não tens outra solução…ou queres andar assim com o cabelo um ninho de ratos, e toda a gente te gozar, ou chamar nomes feios…? – Pergunta a mãe
- Não! – Responde a menina a chorar
- Não, o quê? Não queres cortar, ou não queres andar com ele assim, para não te gozarem?
- Não quero cortar, nem quero andar com ele assim!
- Mas não temos outra solução…eles deram nós cegos…não desatam! Só cortando!
- Malditos gatos… - Grita Luísa a chorar
- Finalmente vais cortar esse maldito cabelo.
- Não! Eu não quero cortar o cabelo… - Grita Luísa
- Mas porque é que toda a gente aqui em casa, e fora de casa corta o cabelo, menos tu?
- Porque não quero ir para o hospital.
- E quem é que te disse que vais para o hospital?
- Se me cortam o cabelo eu vou para o hospital.
- Porquê?
- Porque cortar, faz feridas.
- O quê? Que disparate!
- Sim…
- As facas podem cortar sem querer, mas ninguém corta o cabelo de faca!
- Mas cortar o cabelo dói.
- O quê?
- Sim!
- Onde é que dói?
- Na cabeça.
- Quem é que disse isso?
- Digo eu.
- Mas todos nós cortamos o cabelo e não dói a ninguém, como é que a ti, que nunca deixas cortar, dói?
- Dói…é com tesoura e pente.
- E por acaso isso dói?
- Dói. As tesouras magoam.
- Não magoam nada. As tesouras servem para cortar papéis e o cabelo, mas não dói nada.
- Dói…! Ao cortar o cabelo estão-me a cortar a mim também.
- Que patetice…! Nunca deixaste cortar…como podes dizer que dói? Todos cortamos, e ninguém se queixa. Só tu é que te queixas, sem cortar.
- Não vos dói?
- Claro que não. Devemos cortar muitas vezes o cabelo…! Principalmente para andarmos limpinhos, bem cheirosos, e arejados.
- Ai é?
- É. Claro. Se não cortamos o cabelo podemos ganhar comichões e bichinhos na cabeça que nos fazem muita comichão!
- Bichinhos…?
- Sim. Parecidos com os dos animais.
- Que nojo!
- Pois é! Devemos cortar o cabelo, e mantê-lo sempre limpo…! Não dói absolutamente nada, e ele volta a crescer.
- É?
- Claro…não vês os nossos cabelos…? Cortamos muitas vezes.
- Sim, mas vocês são grandes!
- E as crianças também cortam.
- Cortam?
- Claro…meninos e meninas até muito mais pequeninos que tu.
- Ai é?
- É! Os teus priminhos cortam muitas vezes.
- E não lhes dói?
- Claro que não. Queres ver…?
- Ai…
- Anda lá! Vamos cortar esse cabelo.
- Óh!
- Não tens outra solução, filha. Vais ver como vai ser bom cortares. Confias na mãe?
- Confio.
- Então, deixa cortar.
- Ai…não quero.
- Vá lá…! Vais ficar na mesma muito linda.
- Vou?
- Vais.
- Como é que sabes?
- Eu sei a filha que tenho…esta boneca. E uma fadinha disse-me que tu ias ficar ainda mais bonita com o cabelo mais curto.
- (sorri) Encontraste uma Fada?
- Encontrei.
- Áh! Que lindo. (sorri) E ela disse-te isso?
- Disse!
- E como é que ela era?
- Era linda…! Tinha um vestido cor-de-rosa bebé…cabelos pretos e encaracolados.
- Áh! Devia ser mesmo bonita.
- Mas ela não corta o cabelo.
- Corta sim senhora. Até as fadas cortam os cabelos.
- As fadas cortam o cabelo?
- Sim!
- A sério?
- A sério! E ficam na mesma lindas…!
- Ááááhhh…e achas que é isso que vai acontecer comigo?
- Tenho a certeza! Tu já és linda…ainda vais ficar mais.
- Está bem (sorri) Corta lá…!
- Boa! (sorri)
         E finalmente, a menina Luísa deixa cortar o cabelo. A mãe conta-lhe a história da Fada, enquanto corta carinhosamente o cabelo da filha, sorri, as duas riem, e a menina entra na história. A mãe corta um bom bocado ao tamanho do cabelo da menina porque estava mesmo cheio de nós por todo o lado.
- Já está! – Diz a mãe.
         A menina olha para o espelho.
- Olha que linda que está a minha princesa!
- Óh! Está tão pequeno.
- Tinha de ser, filha…tinhas nós por todo o cabelo que só cortando. Ele volta a crescer rápido. Custou alguma coisa?
- Não!
- Eu disse-te! E doeu alguma coisa?
- Nada! Não senti nada.
- Ouviste o barulhinho da tesoura?
- Sim.
- É o mesmo que tu fazes àquela tua boneca que tem vários cabelos para cortares e penteares…!
- Áh! Ai é?
- Sim…a ela fazes o mesmo que eu te fiz.
- Que giro. Não sabia.
- Agora vou-te secar o cabelo.
         A mãe seca-lhe o cabelo muito mais curto, mas fica mesmo muito bonita. No fim, a menina fica toda vaidosa, sorridente e feliz.
Desde este dia, Luisinha nunca mais teve medo de cortar o cabelo, e gostou muito do seu novo penteado.
Das vezes seguintes, até era Luísa que pedia à mãe para cortar, antes que os gatos transformassem outra vez os seus cabelos em ninhos. É muito bom cortarmos os cabelos, e tê-los sempre bem limpinhos…! Não dói e ficamos muito bonitos…eles voltam a crescer, como acontece com os nossos ossos e as nossa unhas…!

FIM
Lálá
(15/Novembro/2013)