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sábado, 26 de outubro de 2013

O passeio atribulado da bruxinha

desenhado por Lara Rocha 

            Era uma vez uma bruxinha que numa bela noite de Outono, foi passear na sua vassoura. A vassoura encolhe-se, quando ouve a porta da sua casa terrífica a ranger.
Ai, não posso acreditar! - suspira, estremece e murmura a vassoura 
Lá vem ela…! - comenta o mocho a rir 
-  Ela e eu…boa sorte amiga! - diz o morcego 
Onde vai a esta hora? - pergunta uma coruja 
É melhor nem lhe perguntares. Ela detesta perguntas. - responde o mocho 
CORUJA 1 – É impossível esta mulher. - murmura a coruja 
           Bate a porta com o pé e o gato salta pela janela. Ela olha para trás.
Onde vais? - pergunta a bruxinha 
Vou...passear. - diz o gato 
Nem penses que vais atrás de mim. - grita a bruxinha 
Estás a dispensar-me? - pergunta o gato, surpreso 
Estou. Não preciso de sombras…
Isso é verdade…já és uma boa sombra! Eu sou um belo gato.
            A Bruxinha atira-lhe um raio. Ele esconde-se atrás de uma árvore.
Olha que eu ponho-te a dormir na toca dos morcegos…! - ameaça a bruxinha 
Vai, bruxosa horrorosa. - responde o gato 
Obrigada. Assim está melhor. Dragões…tomem conta do palácio enquanto eu estou fora. - diz a bruxinha a rir, e ordena 
Sim, princesa terrífica. - respondem os dragões em coro 
Onde vais? - pergunta um dragão 
Como te atreves a fazer-me uma pergunta dessas…? - grita a bruxinha 
            Atira-lhe um saco mal cheiroso. Todos começam a ficar com a cor verde e a tossir, e ficam sentados no chão.
Que mau feitio…!  - comenta outro morcego 
Vassoura…anda cá…! - grita a bruxinha 
Sim, minha dona mal cheirosa…- responde a vassoura 
És sempre simpática…! Que bom que detestaste o meu perfume. É novo. Até ficaste com inveja, não foi? Eu sei que sim. Vamos…! - ri a bruxinha 
Sim, claro…onde quiseres…! - diz a vassoura 
Já voltamos. - diz a bruxinha 
Boa viagem…- dizem todos 
E não voltes tão cedo… - resmunga um dragão 
            Todos riem.
Eu sei que vão ter muitas saudades minhas…eu volto…! - diz a bruxinha a rir 
              Ela e a vassoura levantam voo. Os animais ficam a comentar.
Coitada da vassoura. - comenta um mocho 
Acredita…até eu tenho pena dela, mesmo quando ela me dá sapatadas…! Eu prefiro a vassoura do que aquela bruxaroca de meio quilo. - comenta outro mocho 
        Todos riem. A viagem começa por correr bem, com a Bruxinha a cantar, a rir, e a conversar alegremente com a vassoura. Entram num espaço com uma atmosfera muito estranha, cheia de luzes, e a vassoura fica aos soluços, até que para.
Mas onde raio estamos…? - pergunta a bruxinha zangada 
Ááááhhh…não sei…! - responde a vassoura 
Como não sabes…? Tu é que me conduzes…anda…! Continua a andar…rápido…! Eu não te mandei parar, porque raio paraste? - grita a bruxinha muito zangada 
Não consigo andar. - diz a vassoura 
Como não consegues andar? Desgraçada…! Mexe-te!
Estamos numa atmosfera com demasiada claridade.
Áááááááááááhhhhhh….que horror! Como pudeste fazer isto comigo? Maldita! Fizeste de propósito…sabes muito bem que eu não suporto sítios com luz…que nojo…que terror…! Ááááááhhhh….vou dar cabo de ti. Anda…mexe-te! Se não…mando-te para a fogueira… - grita a bruxinha 
Óh, não…! Eu não sei o que está a acontecer. - comenta a vassoura assustada 
Não interessa o que está a acontecer…anda! Rápido…! Voa…voa…
          A vassoura começa aos soluços, e não consegue levantar voo. A bruxinha também começa a soluçar, sai de cima da vassoura, agarra nela, e bate com ela no chão a gritar. Ouve-se uma voz da vassoura a gemer, e a pedir ajuda.
Ai…socorroooo…! - pede a vassoura 
Acorda, sua maldita…mexe-te…! Temos de sair daqui.
Não consigo!
É claro que consegues. Pela nossa amizade…voa…vá lá…tira-nos daqui.
Ai, tirem-nos daqui.
               E de uma janela voa uma abóbora que acerta na cabeça da Bruxinha. A Bruxinha larga a vassoura, e cai estática como uma vara no chão. Da janela ouvem-se risinhos pequeninos. A vassoura ri-se, e suspira de alívio.
O meu pedido foi ouvido…boa…! Muito obrigada. - comenta a vassoura, feliz e a rir 
            A vassoura tenta acordar a Bruxinha. Ela abre os olhos, a gemer.
Ai…onde estamos…! Áááááááááááhhhhhh…tanta luz…que nojo…! O que aconteceu?
Não sei onde estamos.
Incompetente…! Tens de saber, e de nos tirar daqui. Que porcaria é que me acertou na cabeça? - grita a bruxinha 
Acho que foi…isso que está á tua beira.
Maldição…uma abóbora horrorosa…! Que nojo. De certeza que foi aquela invejosa da minha prima. - grita a bruxinha 
Fala o roto do esfarrapado…! Só ela é que é invejosa…! - ri a vassoura 
De onde veio esta porcaria? - grita a bruxinha 
Não sei. - ri a vassoura 
Como não sabes? - pergunta a bruxinha muito zangada 
Não vi.
E deixaste este nojo bater-me na cabeça…? Incompetente! Onde estavas com a cabeça e com os olhos? 
No chão…tu estavas a atirar-me contra o chão, e a sacudir-me, lembras-te? Como é que eu podia ver o que quer que fosse? Só via pedras a passar à velocidade de cometas á minha frente…!
Pois é…mas mesmo assim, devias ter visto!
Eu poderia ter visto, se não me tivesses batido.
Eu tenho que encontrar o insuportável que atirou esta porcaria.
É quase encontrar uma agulha num palheiro! Não se vê viva alma. - comenta a vassoura 
Então de onde veio…do céu queres ver? - grita a bruxinha 
Nunca saberemos!
Que ódio…vou dar cabo de ti. - grita, zangada 
Outra vez…? - resmunga a vassoura 
         A Bruxinha tenta bater outra vez na vassoura, mas de repente, vem uma rajada fortíssima de vento, em redemoinho, levanta e empurra a bruxinha e a vassoura daquele sítio para fora. Elas gritam, e vão ter a um descampado. Olham em volta.
E agora…onde estamos? Sua vassouresca idiota…! - grita 
Não sei.
Ááááááááááhhhhhhhhhhhhhh…………! Não acredito nisto. Vou dar cabo de ti.
        Ela tenta fazer uma magia malévola, mas não consegue. Umas folhas de abóbora enrolam-se nos pés da Bruxinha e atrás de si, um espantalho dá-lhe um pontapé no rabo. Ela grita.
Ai…o que é isto?
        O espantalho ri e bate palmas.
Estás-te a rir de quê?
Ai, que pedaço de mau caminho. - comenta o espantalho a rir 
O quê?
Há quanto tempo não via uma bruxa tão jeitosa. - sorri o espantalho 
Mas que descaramento.
Uau! - sorri o espantalho 
Tira-me esta porcaria dos meus pés…e somos amigos. - grita a bruxinha 
É para já.
           O espantalho liberta-a das folhas, e os dois olham-se fixamente. O espantalho segura-lhe na mão e beija-lha. Ela encolhe-se toda.
Lhec. Que nojo. - estremece a bruxinha
Obrigada. - sorri o espantalho 
Parece que…já nos conhecemos! - sorri a bruxinha 
Sim. Agora mesmo. Vamos…vou-te mostrar o sítio onde vivo. - sorri 
          E os dois caminham de mão dada. A vassoura fica a descansar. Três abóboras comentam a rir : 
Ela não sabe com quem se meteu. 
- Pois não…
Este só tem treta.
        Todas riem.
Deixa lá…os dois merecem-se. Ela é horrível, e ele também. - comenta a vassoura a rir à gargalhada com as abóboras 
        No caminho, a bruxinha e o espantalho caem numa poça de lama. A bruxinha fica muito irritada, e começa a bater no espantalho. O espantalho grita.
Desculpa…não sabia que aqui havia uma poça de lama. - diz o espantalho 
Foi a pior poça onde alguma vez estive. E agora…? Então não sabias que aqui havia uma poça…como não sabias…? Vives aqui há tanto tempo…! - grita a bruxinha zangada 
Sim, mas juro-te que não sabia.
Idiota…incompetente! Palerma…! E agora quem vai lavar a minha roupa? - grita a bruxinha 
Eu! - sorri o espantalho 
Tu…? Claro…! - ri a bruxinha 
Queres ver…?
Tu queres é que eu fique em pele.
Não…só estou a ser antipático contigo, e provocador. - assume o espantalho 
Sim, é verdade…está bem…se dizes que és capaz…lava! - sorri a bruxinha 
        Ela tira as roupas, e tenta fazer magia para vestir outra, mas não consegue.
Os meus poderes…? Porque não consigo vestir outra roupa?
Esta zona não tem boa rede para captares os poderes.
Áááááááááááhhhhhh…….que ódio. Eu vou destruir aquela vassoura estúpida. Incompetente…!
És tão jeitosa de roupa e sem roupa. - sorri 
Cala-te.
Eu empresto-te a minha camisola. - sugere o espantalho a rir 
Que nojo.
Porquê? Cheiro mal…?
Sim.
Até parece que o teu perfume é melhor que o meu. - ri o espantalho 
Muito melhor…!
Dá cá a tua roupa…
        A bruxinha tira a roupa, nervosa e muito zangada, começa a chorar e a gritar
Eu quero os meus poderes…! Eu quero sair daqui…
Óh, princesa horrorosa…não fiques assim…vamos continuar o nosso passeio…se tivesses poderes…transformavas-me logo numa coisa nojenta ou horrível.
Pois era. - chora a bruxinha 
Anda conhecer o resto do espaço.
        Os dois vão de braço dado, a bruxa sem a sua roupa, e com a camisola do espantalho. Os dois conversam. Mais adiante, tão entretidos com a conversa que estavam, e tão ternos um com o outro, que não viram a quantidade de folhas de árvores que havia no chão. 
        Os dois escorregaram, e deram um grande trambolhão, enrolando-se um no outro, várias vezes, e gritando. A Bruxinha desata a bater no espantalho, e os dois envolvem-se numa luta, até que caem a um lago cheio de sapos. Os dois gritam, e param a olhar um para o outro. 
A Bruxa começa a gritar e a chorar, a bater na água e no espantalho.
Cala-te…vais acordar os senhores. - recomenda o espantalho 
Quero lá saber. Tira daqui…que nojo. - grita a bruxinha 
     Ela sai do lago, e muito zangada, a gritar e a chorar vai ter com a sua vassoura. Pelo caminho escorrega num pedaço de abóbora comida por passarinhos, e só para junto da vassoura a gritar.
Maldição! Ááááááhhhh…maldita vassoura. Vamos embora…agora vê por onde vamos. Maldita…desgraçado…incompetente. 
Hoje estás especialmente querida…a noite correu-te bem…! Até vens sem roupa, e a pingar…com pedaços de abóbora…- ri a vassoura às gargalhadas 
Não digas mais nada. Vamos embora…despacha-te, antes que eu te desfaça. Para casa. - grita a bruxinha 
           A vassoura consegue voar novamente, e a Bruxinha vai quase a dormir. Ao chegar a casa, ninguém fala. Ela entra, fecha a porta, veste-se e vai para o seu quarto. A vassoura conta tudo aos outros. De repente, o espantalho aparece e bate à porta.
Quem é? - pergunta a bruxinha 
Sou eu…princesona horrorosa…! - responde o espantalho 
        Ela vai à janela, surpresa.
O que estás aqui a fazer?
Vim entregar-te a roupa.
            Ela sorri, desce, abre a porta, e recebe a roupa.
Óh. Obrigada. Agora…podes ir embora. - sorri a bruxinha 
Eu estava a gostar tanto de ti. - triste 
Quero lá saber…volta para a tua casa. - grita, zangada 
Está bem! Boa noite. - triste 
Boa noite.
        A bruxinha fecha a porta na cara do espantalho. O espantalho fica muito triste a olhar para a janela. A bruxinha chega ao quarto, e vai à janela. Olha para o espantalho.
Ainda estás aí?
Sim…estou à tua espera.
À minha espera para quê? Já me deste a roupa.
Cuida bem do meu coração, pelo menos dele…que está junto da tua roupa.
O quê?
           Ela olha para o seu vestido e tem lá um coração de palha a dar luz.
Sim, é esse…!
E porque o deixaste aqui? Leva-o…
Ele não quer sair daí.
Mas eu não o quero aqui.
Ficou aí preso.
Mas vais ter que o tirar.
     A bruxinha faz uma maldade ao coração, arranca-o e atira-o para o espantalho. O espantalho cai. A bruxinha desce a correr e vai ter com ele.
Óh não…!
Acabaste com ele…! - comenta o mocho 
Coitadinho…ele cheio de mimos contigo, e tu…fazes isso com o coração dele. - critica a coruja 
Olha que ele gostava mesmo de ti, e queria conquistar-te. - diz o morcego 
Óhhh…eu não gostava dele…quer dizer…eu achava que não gostava, mas…acho que afinal…gosto…! Ei…acorda… (diz a bruxinha triste) 
         A Bruxinha põe o coração do espantalho no lugar. O espantalho abre os olhos. A bruxinha sorri. Todos suspiram a sorrir.
Óhhh…que momento tão bonito! - comenta um gato emocionado 
Ai…Adoro cenas românticas…! - diz uma coruja a sorrir, e a suspirar 
Vamos ter festa… - diz o morcego feliz e entusiasmado
Fica comigo, espantalho. Desculpa…! Eu afinal…acho que gosto de ti.
Claro que sim, princesona…eu também gosto mesmo muito de ti. - diz o espantalho a sorrir
Adorei o nosso passeio… - diz a bruxinha 
Eu também! - diz o espantalho 
            Os dois entram abraçados no castelo. Os animais e a vassoura estão em estado de choque, e todos festejam. A Bruxinha e o Espantalho tornaram-se grandes amigos, namorados, e marido e mulher…felizes para sempre no castelo da Bruxinha.

FIM
Lálá
25/Outubro/2013



terça-feira, 22 de outubro de 2013

OS OLHOS AZUIS DAS ESTRELAS

Era uma vez dois olhos azuis, que desceram do espaço, enviados pelas estrelas. Os olhos iam para um boneco que estava a ser construído pelos duendes do Pai Natal, mas o vento forte desviou-os do caminho, mandado por uma bruxa invejosa.
            Os olhos tinham lágrimas, que fizeram muita força e tentaram segurar-se muito bem, mas o vento foi mais forte que elas, e arrancou-as dos olhos, espalhando-as por todo o lado. A sorte é que umas caíram em cima da relva, outras caíram em cima das flores e não se magoaram, mas assustaram-se e gritaram.
            Os olhos ficaram tristes e vazios, e como estava uma noite muito fria, as lágrimas congelaram, e transformaram-se em cristais de gelo. A malvada bruxa já se preparava para recolher todas as lágrimas de cristal e usá-las para os seus feitiços, ou desfazê-las com as suas gargalhadas sonoras e arrepiantes.
            Felizmente, as estrelas estavam muito atentas a tudo. Por isso…juntaram-se e pediram ajuda à Lua. Deram as mãos, a Lua lançou raios prateados, e as estrelas, raios de luz dourada, que envolveram as lágrimas num plástico invisível.
            A bruxa não conseguiu tocar nas lágrimas, porque quando tocava no plástico, apanhava choques e queimava-se. Ela gritava muito, e tentava usar os seus poderes para desfazer o plástico, mas não conseguiu.
            Ficou muito zangada, gritou, virou-se ao contrário, tentou lutar com o vento e não conseguiu porque quanto mais lutava com o vento, mais furioso ele ficava e mais empurrava. A bruxa voltou para o castelo.
            As estrelas tiraram o plástico e devolveram as lágrimas transformadas em cristais, aos olhos que estavam tristes, vazios e secos, quase sem cor…e com o regresso das lágrimas, que voltaram a ser lágrimas, os olhos ficaram outra vez cheios, brilhantes e felizes.
            O vento leva os olhos à fábrica do Pai Natal, onde está o boneco a ser construído com muito carinho, e espera os olhos azuis. O Pai Natal recebe-os, e põe os olhos azuis no boneco. Que lindo que ficou! É para uma menina muito especial! Feliz Natal.

Fim
Lálá
21/10/2013

            

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Coração de Avó

NARRADORA – Era uma vez uma boa senhora, que se chamava Nicole, já com uma certa idade, mas com um espírito ainda muito jovem. Dona Nicole adorava costurar e bordar. Vivia sozinha, mas tinha todos os dias a casa cheia de amigas que faziam o mesmo…passavam tardes inteiras a costurar e a conversar, faziam chás e bolinhos e riam muito. Às vezes passeavam juntas, menos quando estava mau tempo. Também adoravam tratar das flores. Como era pleno Inverno, o vento soprava forte e assobiava, que dava medo…abanava tudo. Chovia torrencialmente e trovejava. A senhora só tinha medo quando estava sozinha, mesmo assim, procurava fazer sempre alguma coisa que a distraísse. Enquanto costurava com a Dona Gabriela, e com a Dona Judite, a Dona Nicole olha para o calendário.
D. NICOLE – Falta pouco tempo para o Natal!
D. GABRIELA – É verdade!
D. JUDITE – O tempo passa a correr.
AS TRÊS – É verdade.
D. GABRIELA – Parece que foi ontem o Natal do ano passado…com os meus netos e os meus filhos…naquela montanha gelada…e já estamos noutro Natal.
D. JUDITE – É verdade. O tempo passa, e nós nem damos por isso.
AS TRÊS – É isso mesmo.
D. NICOLE – O meu Natal, este ano é aqui na minha casa…o ano passado foi na Serra da Estrela.
D. JUDITE – O meu vai ser na casa do meu filho Pedro, com os meus netos…é uma alegria.
D. GABRIELA – O Natal é tão bonito!
TODAS – Sim, é!
D. NICOLE – Muito diferente do nosso tempo!
TODAS – Felizmente.
D. GABRIELA – O nosso Natal era uma pobreza…agora é muito melhor…muito rico.
D. JUDITE – É verdade! O nosso Natal era uma pobreza, mas não faltava comida, nem calor humano, nem alegria, nem amor.
D. NICOLE – Era…! Estávamos em família, à lareira...quase à luz das velas…deitávamo-nos cedo…!
D. GABRIELA - Tudo era cozinhado naqueles potes, que lhe dava um sabor especial.
D. JUDITE – Agora é tudo falsificado…até o bacalhau às vezes já não é igual ao nosso.
TODAS – É verdade!
D. NICOLE – Agora…as crianças são carregadas de brinquedos, caríssimos, e pouco ou nada lhes ligam, ou estragam.
D. GABRIELA – Pois é! Mas eu continuo a adorar o Natal.
TODAS – Eu também.
D. NICOLE – Mas sabem uma coisa…?! Nesta altura também fico sempre um bocadinho triste…
D. JUDITE – Porque lembras-te do teu Natal e da tua família…é normal! Eu também…mas quando estou com eles esqueço as tristezas todas.
D. NICOLE – Não…não é só isso! É que lembro-me muito de quem não tem família nem prendas…não é que as prendas sejam mais importantes, mas toda a gente gosta de receber alguma coisa…! Lembro-me muito dos meninos pobres…! Sempre quis deixar uma prendinha a cada um, nos bairros pobres, e onde há crianças abandonadas…mas não tenho dinheiro, nem tenho mãos tão rápidas como tinha antes, para fazer tudo a tempo.
D. GABRIELA – Isso também me lembro, e agradeço tudo o que tenho…a família que tenho, a casa, o conforto, o calor, as amigas, a roupa, a comida…tudo!
D. JUDITE – Olhem…sabem que mais?! Em vez de estarmos aqui a ficar tristes, com as recordações, e a ter pena dos que não têm nada…em vez de ficarmos pelo desejo de ajudar…vamos pôr mãos à obra e fazer bonecas, saquinhos e roupas, para as crianças pobres e para as que estão nas instituições.
D. NICOLE (sorri) – Excelente ideia! Tens toda a razão!
D. GABRIELA – Amigas…isso é tudo muito bonito, uma excelente ideia, mas têm a certeza que vamos fazer tudo a tempo? Três gatas pingadas…de patas murchas…lentas…falta pouco…não sei se estão a ter a perfeita noção.
D. NICOLE – Fala por ti…!
D. JUDITE – Mas que desvalorização…! Não confias nas tuas capacidades? Sempre fizemos coisas tão bonitas…e estamos sempre a descobrir peças novas…!
D. NICOLE – Não sejas tão pessimista.
D. GABRIELA – Acho que já não temos idade para nos metermos em altas cavalarias.
D. NICOLE – O quê?
D. JUDITE – Isso até é pecado!
D. NICOLE – Isso é preguiça tua…!
D. JUDITE - Idade…? Qual idade…eu nem sei quantos tenho! Sei que Graças a Deus tenho mãozinhas e cabecinha para fazer o que mais gosto…o resto…não quero saber.
D. NICOLE – Pois claro! Tens toda a razão.
D. JUDITE – É preciso que haja boa vontade, e confiança.
D. NICOLE - É claro que vamos conseguir fazer tudo a tempo. Querem ver? E não vão ser só três gatas pingadas de pata murcha…! Seremos um gatil.
NARRADORA – Dona Nicole levanta-se e vai ao telefone. Liga para todas as suas amigas e pouco depois, todas aparecem na sua casa, cheias de felicidade, entusiasmadas, e com vontade de trabalhar. Todas concordaram e levaram consigo todos os tecidos e materiais que precisavam. Numa grande alegria, enquanto conversam e riem umas com as outras, fazem roupas, pijamas, casacos, calças, meias, camisolas, gorros, luvas, vestidos, saias, botinhas de agasalho, saquinhos, e bonecas de pano. Cada qual a mais bonita. Juntam-se todos os dias e quando reparam, quase sem dar por isso…muito bem-dispostas, já têm vários caixotes e sacos cheios com os seus miminhos para os meninos.  Antes da noite de Natal, o Pai Natal da aldeia, recolhe os caixotes e sacos, na casa da D. Nicole, e distribui pelas crianças das Instituições e dos bairros sociais mais pobres da aldeia, e da cidade. Todas estão felizes e orgulhosas. As crianças pobres que receberam as roupas e as bonecas ficaram ainda mais felizes, e pediram ao Pai Natal para visitar as senhoras e agradecer. O Pai Natal leva-as à casa da Dona Nicole, que está com a sua família e toca à campainha. Ela abre a porta e todos gritam com um grande sorriso…
TODOS – Feliz Natal, Avó Nicole!
NARRADORA – Dona Nicole sorri emocionada, e cada menino abraça e beija a senhora.
CRIANÇAS – Muito obrigada, Avó Nicole!
UMA CRIANÇA (sorridente) – Avó Nicole…este foi o melhor Natal da nossa vida. Estamos muito felizes e muito agradecidos!
D. NICOLE (sorridente) – Eu também estou muito feliz.
PAI NATAL (sorridente) – Hoh, Hoh, hoh…! Feliz Natal querida Avó Nicole! És um anjo.
D. NICOLE (ri) – Que anjo, o quê? Eu sou só uma mulher velha…com uma criança debaixo da pele.
PAI NATAL (sorri) – E que linda que é essa criança! Não pediste nada…
D. NICOLE (sorridente) – Este é o melhor presente que podia receber…ver estas crianças, pobres, com estrelas nos olhos de felicidade por tão pouco. E esta visita…este carinho todo…! Além da saúde…o resto já tenho!
PAI NATAL (sorridente) – É uma Avó de Luz…! Que alma linda!
DONA NICOLE (sorri) – Tenho Natal todo o ano no meu coração!
PAI NATAL (sorri) – É verdade!
DONA NICOLE – Entrem! Está muito frio.
NARRADORA – Mas os meninos ficam envergonhados.
TODOS – Boa Noite, e Feliz Natal.
UMA CRIANÇA – Venha visitar-nos mais vezes!
OUTRA CRIANÇA – Agora é a nossa Avó Nicole!
D. NICOLE (sorri) – Com muito gosto! Irei com certeza. Não querem entrar?
TODOS – Não, obrigada.
CRIANÇA 3 – A família, o amor, o carinho, a amizade, a saúde, a alegria, a união e a paz são os maiores presentes que podemos ter!  
E começam a cantar, com umas pilhas, e vão saindo:
«Noite feliz…noite feliz…o Senhor…Deus de Amor…Pobrezinho nasceu em Belém…Eis na lapa Jesus nosso bem…Dorme em Paz óh Jesus…dorme em paz óh Jesus.»
TODOS - Feliz Natal!
FIM
Lálá

(4/Outubro/2013)