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sábado, 27 de julho de 2013

O PINCEL E AS TINTAS


         Era uma vez um pincel que estava mergulhado na água com um produto, para tirar os pedaços de tinta depois do trabalho. A função dos pincéis é trabalhar…transferir para o papel os sentimentos, emoções e pensamentos, desejos e sonhos…do pintor.
Os pincéis dançam, rodam, sobem e descem, vão para a esquerda e para a direita, fazem círculos, quadrados, triângulos, e formas misturadas, como o pintor decide.
Umas vezes trabalham mais, outras vezes trabalham menos, conforme as ideias do pintor, mas não são nada sem as tintas. O pintor escolhe as cores, mistura, usa uma de cada vez, ou várias de cada vez, o pincel adora acariciá-las, escorregar pelas telas e folhas grandes.
Este pintor estava tão louco, eléctrico que pintou durante toda a tarde, em que chove torrencialmente. Nasceram uma série de quadros nessa tarde, e o pobre pincel estava mesmo muito cansado, ainda via tudo a andar à roda quando parou.
Mesmo depois de tanto quadro, o pintor ainda queria pintar outro, mas não tinha mais ideias. Então, decidiu ir para a varanda da marquise, ver chover, e para ver se ganhava novas ideias. Enquanto olhava para a janela, quase vencido pelo cansaço, instalou-se no cadeirão, cobriu-se com uma manta, e sem dar por isso, o cinzento das nuvens, e a escuridão, tomaram conta dele. Adormeceu e sonhou…
Enquanto o pintor dormia, os dois gatos ficaram no quarto, com o pincel e as tintas, a apreciar os quadros. Tinham ficado todos muito bonitos! Pareciam verdadeiros! Uns eram sobre a cidade: pessoas de guarda-chuva, galochas, candeeiros acesos, cães e gente a procurar abrigos numa correria louca, carros a levantar grandes chafarizes de água e a dar banho aos desgraçados que passavam, pessoas que dormiam na rua…e outras cenas que o pintor tinha visto… Outros quadros eram do mar, e outros quadros do campo.
- Valeu a pena tanta volta! Suspira o pincel.
- Sim! – Respondem as cores, e os gatos.
- Aquele peixe existe mesmo? Pergunta o gato esfomeado, a lamber os bigodes.
- Que peixe? Perguntam todos.
- Aquele que tem um aspecto…Huummm…com aquelas cores: vermelho, azul-escuro, amarelo, cor-de-laranja, branco, preto…e…prateado e dourado…! Descreve o gato.
- Não sei! Respondem todos.
- Se ele o desenhou…existe quanto mais não seja, na imaginação dele. Explica o outro gato.
- Eu nunca vi um peixe assim…também nunca mergulhei no mar ou nos rios, para ver se existe! Responde a tartaruguinha pequenina do aquário.
- Tem um aspecto…Huummm…apetece mesmo espetar ali o dente! Inhame, inhame… Murmura o gato esfomeado.
- Só pensas em comer! Exclama o outro gato.
- Não podes comê-lo…é de papel, e o papel não se come! Explica a tartaruguinha.
- Que pena! Suspira o gato esfomeado.
- Gosto mesmo daquelas cores! Exclama o pincel.
- Olhem: porque não fazemos uma surpresa ao nosso amigo, para lhe retribuir o trabalho que ele nos dá, e assim é também um hino à nossa amizade! Sugere a tartaruguinha.
- Como? Perguntam em coro.
- Fazemos todos juntos, um lindo quadro para ele. Sugere a tartaruguinha.
- Acho muito boa ideia…já somos amigos há muito tempo, estamos sempre aqui, e se não fosse ele, não teríamos nada de interessante para fazermos…ficaríamos a apanhar pó, ou seriamos comidos… - Reflecte o pincel.
- Sim, é verdade…estamos juntos há tanto tempo, e nunca festejamos! Lembra o outro gato.
- Pois! Dizem em coro.
- Mas o que vamos fazer? Pergunta outro pincel.
- Podemos misturar-nos, e juntar os lápis de cor, e os marcadores…os guaches, as tintas de água, a tinta-da-china, as tintas de óleo, as purpurinas… - Sugere o pincel.
- Sim! Respondem em coro.
- Posso participar? Pergunta a tartaruguinha.
- Claro…! Responde o pincel.
- E nós? Perguntam os gatos.
- Também. Responde o pincel.
- Pomos uma musiquinha para nos inspirar. Sugere a tartaruguinha.
- Boa! Respondem em coro.
- É melhor pormos a tela em baixo…- Lembra o pincel.
- Claro! Respondem em coro.
- Já era o que eu ia fazer, para ninguém se magoar ao atirarem-se contra mim.
         A folha branca desliza da tela, e pousa no chão. O pincel salta do frasco, sacode-se, liga o rádio, e todos se preparam. Ao som da música, todos os materiais começam a dançar alegremente, os lápis de cor começam, e cada um, passa pela folha, faz um risco que quer, com os movimentos, acompanhados de palmas dos outros.
Depois, todos juntos, os lápis de cor dançam uns com os outros sobre a folha, e fazem círculos, uns encaixados nos outros, em direcções diferentes.
A estes, juntam-se os marcadores, que encaixam os seus movimentos corporais, nos círculos feitos pelos lápis de cor, em todos os sentidos da folha, com as cores muito bem conjugadas.
Os outros materiais apreciam de fora, e gostam do efeito, mas sentem que falta mais cor. Os guaches, as tintas de água, e as tintas de óleo dançam individualmente com o cavalheiro pincel, e deslizam pela folha…parece que andam de patins.
Juntam-se mais uns pincéis de diferentes espessuras e tamanhos, e dançam com eles nos sítios certos, nas imagens que precisam, e desenham linhas, pontos, traços, pequeninos detalhes que fazem toda a diferença. A tartaruguinha e os gatos também acrescentam uns miminhos onde acham que precisa.
Está um quadro de um verdadeiro artista…a brincar e a dançar, a conviver alegremente, cada um contribuiu para uma obra completa, cheia de pormenores nas imagens…parece tão real! E com umas cores…de sonho! Parece uma fotografia do real. Que lindo!
No final, todos voltam aos seus sítios, limpam-se, e apreciam a obra de cima.
- Uau! Suspiram em coro.
- Está lindo! Elogia o pincel, orgulhoso e sorridente.
- Fomos mesmo nós que fizemos isto? Pergunta outro pincel.
- Sim! Gritam em coro.
- Fantástico! Elogia um gato.
- E nós? Perguntam as purpurinas.
- Áhhh…! Exclamam todos.
- Esquecemo-nos de vocês! Exclama a tartaruguinha.
- Desculpem! Exclamam todos.
- Ainda podem terminar… - Sugere o outro gato.
- Onde? Perguntam as purpurinas.
- Já está cheio… - Exclama outro pincel.
- Ali…no cimo da folha…e no solo… o que vos parece? Sugere a tartaruguinha.
- Sim! Exclamam todos.
         E as purpurinas dão o remate final á pintura.
- Perfeito! Gritam todos.
         Todos aplaudem, orgulhosos, sorridentes e felizes. A folha volta para a tela. Apreciam mais uma vez. Todos os materiais abraçam-se, trocam elogios, dizem o que sentem uns pelos outros…e de repente ouvem barulho na varanda. O pintor acordou. Cada um vai para o seu sítio, como se nada fosse. O pintor olha mais uma vez para a janela, e volta para o quarto.
- Adormeci! Suspira o pintor.
         Quando chega ao quarto vê a linda pintura pendurada.
- Mas… estou a sonhar? Pergunta o pintor.
- Não! Respondem os gatos.
- Ááááhhh…mas…fui eu que fiz isto? Pergunta o pintor, maravilhado com a imagem.
- Fomos nós! Gritam todos.
- Quem fez esta pintura tão bonita…? Pergunta o pintor.
- Fomos nós para te agradecer o trabalho que nos dás. Explica o pincel.
- E foi um hino à nossa amizade! Porque já estamos juntos aqui há muito tempo, e nunca demonstramos carinho uns pelos outros…nunca nos tínhamos abraçado, nem divertido tanto… Acrescenta a tartaruguinha.
- Pois é! Concordam todos.
- Como não estavas inspirado, resolvemos fazer-te esta surpresa. Responde a folha.
- E ficou lindo! Está perfeito… Muito obrigado! Responde o pintor com um sorriso de orelha a orelha.
- Aprendemos contigo! Acrescente o gato esfomeado.
- Acredito! Aprendemos sempre uns com os outros! Responde o pintor.
- Foi muito bom este bocadinho, amigos! Agradece a tartaruguinha.
- Sim! Concordam todos, sorridentes.
- E sabem outra coisa muito importante? Pergunta o pintor.
- O quê? Perguntam todos.
- Cada um de vocês é diferente do outro…cada um tem a sua cor, e o seu material…mas todos juntos fizeram este quadro maravilhosamente lindo, perfeito, cheio de vida! Explica o pintor.
- Tens toda a razão! Concordam todos a sorrir.
- Muito obrigada por existirem! Também não sou nada sem vocês. Preciso de cores, para me dar alegria, e transmitir tudo o que sinto a quem me vê! Agradece o pintor.
- Obrigado amigo! Agradecem todos os materiais.
- Até fiquei inspirado…vou pintar…a gratidão e a amizade…os abraços e o carinho, a dança! ─ Informa o pintor.
─ Boa! ─ Gritam em coro.
─ Lá vamos nos outra vez! ─ Exclama o pincel.
         E o pintor…põe outra vez mãos a obra. Ficou tão feliz com a surpresa que os amigos lhe prepararam, e com a amizade que lhe demonstraram, que surgiram na sua mente, mais quadros…alegres, cheios de cores, acompanhados de música e dança.
─ Com estes quadros, vou mostrar a toda a gente, que não vivemos sem amigos, e que devemos reconhecer o carinho que nos dão, e que temos por eles. Vou mostrar também que sozinhos não somos nada, e que todos precisamos uns dos outros! Vou mostrar ainda que os sentimentos bons e bonitos devem ser mostrados, vistos por todos, sentidos por todos…precisamos de sentir que somos queridos para alguém, e os outros também precisam de o saber. ─ Comenta o pintor, enquanto pinta.
─ E a gratidão também deve existir sempre, em todas as nossas relações e em todos as pequenas coisas que recebemos, que temos…que damos e que retribuímos. ─ Lembra o pincel.
─ Com gratidão tudo fica muito mais bonito, mais brilhante e luminoso. ─ Comenta a purpurina prateada.
─ Com amizade e gratidão…o mundo pode ser melhor. ─ Afirma o pintor.
         E continua nas suas pinturas, feliz e grato.

FIM
Lálá
27/Julho/2013








quarta-feira, 17 de julho de 2013

A FADA PENA


Era uma vez um lindo ser mágico, cheio de luz, uma mulher fada que tinha corpo de pena. Vivia numa floresta, mas adorava ir para uma praia selvagem pensar e descansar, dançar…! Umas vezes ia com o vento, outras vezes ia sozinha, sem pressa, para ver todas as coisas bonitas do caminho.
O vento adorava-a, e por isso, quando os dois passeavam, a fada pena voava alto…pousava no cimo dos pinheiros, e nos montes mais altos. Depois, quando queria…baixava devagarinho, e tocava levemente nas pétalas das flores, que riam felizes pelas cócegas, e por receber os seus mimos.
Abraçava árvores, e borboletas com quem se cruzava, voava pousada nas penas de passarinhos e de águias, fazia carinhos nas joaninhas, e brincava, dançava, ria, e bebia água nas cascatinhas que encontrava pelo caminho, ou as gotas de água que caiam das pétalas das flores. Às vezes até mergulhava.
Quando acontecia de chover, a fada pena abrigava-se debaixo das suas amigas flores, ou das folhas enormes, e cobria-se com elas. Adorava apanhar os raios de sol, que espreitavam pelas árvores e pinheiros até à praia.
Chegava à praia, e deitava-se na areia fofa e branca, aquecida pelo sol de um lado…e fresca…do outro, onde havia sombra. Se estava calor, ela ficava na sombra, se estava frio, ela ficava ao sol.
Um dia, a fada pena estava muito descansada na areia, à sombra, porque o sol era quente, e viu a saltar no mar quase sem ondas, um golfinho feliz. Ela vai ter com o golfinho, encantada, e vê que ele transportava no seu lombo, uma estrela-do-mar que ria às gargalhadas, gritava e escorregava sem cair ao mar, à medida que fazia movimentos delicados, elegantes e harmoniosos. Era lindo de ver!
- Um golfinho…um príncipe dos mares…Uau! Que lindo! E…uma estrela-do-mar…enorme…! – Exclama a Fada Pena.
- Olá Fada Pena…! – Cumprimenta a estrela-do-mar.
- Tu conheces-me? – Pergunta a Fada Pena surpresa.
- Sim! Toda a gente fala de ti, lá em baixo, onde vivo! E as gaivotas…mas eu nunca te tinha visto! – Explica a estrela-do-mar.
- A sério? – Pergunta a Fada Pena.
- Sim! Já muita gente te viu…és mesmo bonita! – Elogia a estrela-do-mar.
- Obrigada! Tu também…e és enorme! – Exclama a Fada Pena.
- Não! Sou pequena…só tu és mais pequena que eu, por isso eu pareço-te enorme…mas não sou! Enorme é este meu amigo! – Explica a estrela-do-mar.
- Verdade! Eu sou enorme à beira de vocês as duas…mas acham que isso é o que mais importa para serem amigas ou passearem juntas? – Pergunta o golfinho.
- Não! – Respondem em coro!
- Mas nunca nos tínhamos visto…! – Diz a Fada.
- Pois não! Estamo-nos a conhecer! – Explica a estrela-do-mar.
- Queres vir dar uma volta, conhecer este espaço lindo? – Convida o golfinho.
            A fada aceita de imediato, salta para o seu lombo, acaricia-o e diverte-se muito risonha e feliz com a estrela-do-mar e com o golfinho. As duas riem, abraçam o golfinho, escorregam no seu lombo, e mergulham, brincam os três. O golfinho ri com as cócegas das amigas e desliza sobre a água como se fosse um barco.
Depois de tanta brincadeira, o golfinho e a estrela-do-mar regressam para a sua casa, e a fada pena vai descansar para a sombra. Deixa as marcas na areia.
Um bando de gaivotas chega à praia, e vê as marcas.
- Temos visitas! – Exclama uma gaivota.
- Huummm… - Todas cheiram.
- Pelas marcas…não me parece das nossas! – Diz outra gaivota.
- Intrusos? – Perguntam todas.
- Temos de descobrir quem é! – Alerta outra.
- Será que é perigosa para nós? – Pergunta outra gaivota.
- Espero que não! – Exclamam todas.
- Vamos seguir as marcas. – Sugere outra gaivota.
- Com cuidado! – Recomenda outra gaivota.
            Patinha à frente, patinha atrás, discretamente e silenciosas, as gaivotas seguem as marcas na areia, de molhado, e quase dão uma grande cabeçada num rochedo à sombra, onde está pousada a fada pena. Quase congelam, quando vêem a fada pena.
- A fada pena! – Exclamam todas surpresas, com um grande sorriso, quase emocionadas.
            A fada pena acorda sobressaltada, e estremece, encolhida ao ver tantos olhos espetados nela, e tantos bicos de volta dela.
- Óóóhhh…que felicidade! – Exclama outra gaivota com um grande sorriso!
- Óóóhhh…é mais bonita do que o que eu imaginava! – Acrescenta outra gaivota, encantada.
- Ai, até me vem as lágrimas ao olhos… Aaaaiiii…! – Diz outra gaivota.
- Já há muito tempo que eu sonhava com este momento. – Confessa outra gaivota com um sorriso aberto.
- Ai…tantos olhos em cima de mim…! – Diz a fada pena.
            As gaivotas sorriem e piam para lhe dar as boas vindas.
- Ai, vão-me comer…? – Pergunta a fada pena assustada.
- Não! – Respondem em coro.
- Porque te haveríamos de comer? – Pergunta outra gaivota.
- Não sei…podiam pensar que eu era um intruso… - Diz a fada.
- Nada disso! - Respondem as gaivotas em coro.
- Já há muito tempo que te queríamos conhecer. – Informa outra gaivota.
- És tão bonita! – Elogia outra gaivota.
- Gostamos tanto de ti! – Gritam as gaivotas em coro.
- Obrigada! – Responde a fada sorridente.
- Principalmente da forma como tu danças, e a luz que transportas…que espalhas por todo o lado, enquanto danças. – Acrescenta outra gaivota.
- Já me viram dançar? – Pergunta a fada muito surpresa.
- Sim! Muitas vezes. – Respondem as gaivotas em coro.
- Só não sabíamos se eras tu, porque só víamos uma luz a mexer…depois disseram-nos que eras tu.
- Dança para nós…por favor! – Pede uma gaivota.
- Agora? – Pergunta a fada.
- Sim! Por favor… - Dizem as gaivotas em coro.
- Está bem! – Responde a fada a sorrir.
            E a fada pena dança para as gaivotas, levemente, rodopia, sobe, desce, deixa rastos de luzinhas a cada movimento que faz. As gaivotas seguem-lhe todos os movimentos, parece que ficam hipnotizadas com tanta beleza e leveza. Dança e faz desenhos na areia, de flores e de estrelas…a areia fica toda brilhante.
            No fim, todas batem palmas, emocionadas, e convidam-na para ir à praia à noite. A Fada Pena agradece feliz e sorridente, e aceita o convite. Nessa mesma noite quente, a Fada Pena vai para a praia, cheia de gaivotas, golfinhos na costa, estrelas-do-mar, sereias, e outros visitantes convidados, para assistir ao espectáculo.
A Fada Pena fica surpresa e feliz. Agradece a presença de todos e começa a dançar levemente…com a ajuda da orquestra de conchas, crustáceos e outros, que tocam instrumentos.
Dança levemente, para cima…para baixo…para os lados, depois em todas as direcções ao som das músicas…rodopia, faz formas geométricas e lindos bailados, com movimentos elegantes, coordenados, lindos. Por onde passa, deixa lindos rastos de luz, e voa por cima do público, enche-os de salpicos de luz.
A praia fica tão bonita com a Fada Pena que parece que todas as estrelas do céu, tinham descido para aquela praia…tal era a luz que a Fada deixava, enquanto dançava.
Todos aplaudem muito, e soltam grandes exclamações de encanto, seguem todos os movimentos dela. A música e a dança contagiam todos do público…os golfinhos as estrelas-do-mar e as sereias saltam e dançam dentro da água, seguindo o mesmo ritmo e as mesmas músicas que a fada, e sempre de olhos postos nela. No público também todos dançam, e há muitas palmas.
Desde essa noite, a Fada Pena dá espectáculos na praia todas as noites. Todos se deixam contagiar e invadir pela linda luz da fada pena.

FIM
Lálá
(17/Julho/2013)


quarta-feira, 10 de julho de 2013

O PASSARINHO EGOÍSTA













foto de Lara Rocha 

             Era uma vez um passarinho que vivia num ninho ao lado de uma fonte de água fresca, num jardim de uma grande cidade. O passarinho…só porque vivia ao lado da linda e fresca fonte, achava que era dono dela, e por isso, não deixava que ninguém se aproximasse dela. Quando alguém ou outros passarinhos pousavam na fonte para beber, o passarinho gritava:
- Sai…fora daqui! A fonte é minha.
            Os passarinhos resmungavam com ele, e explicavam-lhe:
- Não, não! A fonte não é tua!
- A fonte está no jardim, por isso…é de todos!  
- Todos podemos beber!
            Mas o passarinho não queria saber…e ficava ainda mais zangado: dava bicadas, e chilreava muito alto, punha as patinhas esticadas e atirava-se a quem fosse beber…arranhava, empurrava-os e dava sapatadas, tentava arrancar penas e cabelos aos meninos e pessoas que queriam beber. As pessoas tinhas medo dele, e o malandreco ria satisfeito. Mas também era por causa disso que não tinha amigos. Achava que era o Rei da fonte:
- A fonte é minha! Não é de mais ninguém! – Gritava orgulhoso.
            A fonte ficava triste com isso, pois era muito boa, e gostava muito de ajudar, mas o passarinho não deixava! E ela também não podia fazer nada. Um dia, a fonte ficou farta do egoísmo e da maldade do passarinho, que pediu um desejo às estrelas:
- Estrelinhas…eu quero que me tornem transparente! Aquele passarinho está a precisar de uma lição…não pode ser! O que ele está a fazer é muito feio.
            A estrelinha que a ouviu, concordou com a fonte e disse:
- Tens toda a razão! Tu não és dele…és do jardim…qualquer pessoa, e animal pode beber a tua água! Deixa comigo, fonte! 1…2…3…desejo concedido!
            Magia…a fonte torna-se mesmo transparente. Na manhã seguinte, o passarinho ia para tomar banho, lavar as suas penas e bico na fonte e refrescar-se…mas não viu a fonte. Ficou muito assustado e grita:
- Fonte…! Fonte…! Onde estás?
            A fonte não responde, e o passarinho procura por todo o lado, nervoso, zangado e assustado:
- Fonte! Óh minha fonte…onde estás? Levaram-te? Óh, não…não pode ser…! Eu preciso da minha fonte…Óóóhhh…e agora? Quem é que fez esta maldade?
- Maldade…é o que tu fazes com toda a gente, e com todos os animais que querem beber! – Diz a fonte.
- Óh! Estás aqui minha fonte…onde? – Procura o passarinho.
- Porque é que dizes que sou tua? – Pergunta a fonte.
- Porque vives ao lado da minha casa, e é onde bebo a tua água deliciosa, fresca…é onde tomo banho…e és minha! – Explica o passarinho.
- Que coisa mais feia! – Suspira a fonte – É por isso que não tens amigos…! Não partilhas nada…e no meu caso não sou mesmo de partilhar…porque é que és tão egoísta? – Pergunta a fonte.
- Eu não sou isso. Não tenho amigos porque eles não querem – Responde o passarinho.
- Claro que és! – Exclama a fonte. Porque é que queres as coisas todas só para ti, se depois não lhes ligas nenhuma…? Já pensaste? Tiras as coisas aos outros, e depois não pegas nelas, nem fazes amigos. Eles não querem porque tu és mau…dás bicadas, arranhas, arrancas penas e cabelos, empurras…dás tudo, menos carinho…! Os amigos tratam-se com carinho…festinhas, beijinhos, abraços…risos…e emprestam-se coisas…como fontes, brinquedos, roupas…! E não é por viver ao lado da tua casa, e beberes a minha água que podes chamar-me tua! - Continua a fonte.
- Óh, aparece fontezinha linda…! – Implora o passarinho.
- Não apareço enquanto fores tão egoísta. Ou deixas toda a gente que quiser, beber…e paras de dizer que sou tua…ou então eu não apareço! – Ameaça a fonte.
- Óh, eu prometo que deixo beber…aparece por favor! – Pede o passarinho.
- A água que sai de mim, é minha…e nem por isso eu proíbo os outros de a beberem, nem fico sem ela. Aliás, até fico muito feliz por dar a minha água, a quem tem sede. – Explica a fonte.
- Mas a tua água é só minha. – Insiste o passarinho.
- Não é só tua…olha que não apareço…- avisa a fonte.
- Desculpa! Aparece…eu não digo mais isso. – Diz o passarinho.
- Assim está melhor. Espero mesmo que faças isso! – Ordena a fonte.
            A fonte volta a aparecer. O passarinho delicia-se com a água, refresca-se, leva as penas, bebe e chapinha feliz. Mas o passarinho esqueceu-se muito rápido, do que tinha prometido à fonte, porque quando se aproxima um gatinho cheio de sede, já fraco, que tenta beber…o malvado passarinho empurra, bica e arranha o pobre gatinho, e ele como estava fraco, caiu, a miar. O passarinho esqueceu-se, mas a fonte não se esqueceu…e desaparece, torna-se transparente, com a água virada para o gatinho. O gatinho bebe consolado. O passarinho muito zangado começa a chorar muito:
- A minha fonte…! Seu gato feio…a fonte foi-se embora por tua causa. – Acusa o passarinho muito chorão.
            O gatinho não lhe responde, mas a fonte resmunga-lhe:
- Esqueceste-te do que me prometeste passarinho…mauzão…feio! Não vês que o gatinho está doente…cheio de sede…e outra vez…disseste que eu sou tua! Enquanto fizeres isso, eu não apareço. Tens de fazer pelo menos uma boa acção…tens de ser bom…estás a ser muito mau! Não sejas egoísta…se estivesses doente, fraco e cheio de sede, também gostavas de encontrar uma ajuda como a tua? – Pergunta a fonte.
- Não. – Responde o passarinho.
- Pois é! O gatinho também não gosta. – Acrescenta a fonte.
            E assim é. Enquanto o gatinho bebe, a fonte não aparece, porque o passarinho ainda não fez uma boa acção. De repente, o passarinho, com medo que a fonte não voltasse a aparecer, lá foi contrariado procurar ajuda para o gatinho. A fonte aprecia, e sorri. Chega com uma borboleta que é médica.
- Olha…este está doente. – Informa o passarinho.
- O que é que ele tem? – Pergunta a borboleta.
- Não sei…- Responde o passarinho.
- Está desidratado e com fome…- informa a fonte.
- Porque não apareces, fonte? – Pergunta o passarinho.
- Não fizeste uma boa acção – Responde a fonte.
- Fui chamar a médica para esse peludo…não é uma boa acção? – Pergunta o passarinho?
- Não fizeste com o coração. – Responde a fonte.
- O quê? – Pergunta o passarinho.
- Tens de ser bom, tens de ficar feliz por ser bom para os outros. Não é fazeres bem, só porque te mandam. – Explica a fonte.
            A borboleta analisa o gatinho carinhosamente, e o passarinho não sabe o que fazer mais para a fonte aparecer outra vez. De repente, lembra-se de convidar os outros passarinhos para brincar com ele, e para beberem água, e refrescarem-se na fonte. Os passarinhos, no inicio ficaram desconfiados, porque sabiam que ele era mauzinho, mas decidiram aceitar. Todos brincam juntos, muito divertidos, felizes, trocam carinhos uns com os outros, dividem brinquedos, riem, saltitam…e quando ficam com sede, todos vão beber água e refrescar-se. A fonte está feliz e orgulhosa, e aparece.
- Muito bem! Assim sim…agora foste um bom passarinho…e arranjaste muitos amigos. Que bonito que foi ver-vos a brincar todos juntos, a trocar carinhos e brinquedos…e agora aqui na fonte! – Elogia a fonte.
- Sim! – Respondem em coro.
- O gato, onde está? – Pergunta o passarinho.
- Está ali à sombra, a descansar. – Responde a fonte.
- Mas o que é que ele tinha? – Pergunta o passarinho.
- Estava muito cansado e fraco, com fome e sede…não tinha dono…quer dizer…tinha, mas os donos puseram-no fora de casa. – Explica a fonte.
- Coitadinho! – Respondem os passarinhos em coro.
- Ele pode ir para a minha árvore, quando estiver sol, ali. – Informa o passarinho.
- Muito bem, passarinho! Obrigada! Ele vai. Para já está bem ali. – Elogia a fonte, sorridente.
            E a partir desse dia, o passarinho começou a ser mais bonzinho, a ser amigo de todos, e simpático com todos…passou a dar carinhos aos outros, e a receber também muito carinho, a brincar muito, e a emprestar coisas aos outros, e fez muitos amigos. Andava muito mais feliz, e a fonte também gostou muito mais dele. Pois é, meninos…também temos de ser como a fonte…e como o passarinho…ser bonzinhos, emprestar os brinquedos e livros uns aos outros, dar carinhos uns aos outros…abraços, beijinhos, dar as mãos…é muito mais divertido brincarmos juntos, e felizes, com os brinquedos que são de todos…e todos podemos brincar com os mesmo brinquedos, não ao mesmo tempo…um de cada vez…enquanto um menino está com um brinquedo que nós queríamos, nós brincamos com outro brinquedos, e quando o menino nos der o brinquedo que queríamos, emprestamos o que tínhamos, e ele brinca com outros. É muito bom, e todos ficamos muito mais felizes…se formos todos amigos uns dos outros. Experimentem!

FIM
Lálá
10/Julho/2013