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sexta-feira, 9 de março de 2012

A menina dos cabelos musicais


Era uma vez, uma Vila da Cidade Paraladoespelho, que talvez já tenham ouvido falar noutras alturas…onde vive uma menina chamada Diana.
Aparentemente, é igual a muitas outras meninas: muito bonita, simpática, brincalhona, pequenina, sonhadora…mas com uma diferença: tinhas uns lindos cabelos que davam música!
Sim, é isso mesmo! Sempre que ela mexia os seus longos cabelos ondulados e loiros, e por onde ela passava…aconteciam coisas maravilhosas!
Mas…nem toda a gente conseguia ouvir a sua música…algumas, apenas sentiam os seus efeitos!
Não acreditam? Perguntem à Mamã que vão ver a seguir…!
Uma linda rapariga, muito nova, acabou de ter um bebé, quer dizer…não foi neste minuto que ela teve o bebé…foi há muito poucos dias…saiu do hospital, e como acontece nas Vilas, toda a gente se conhece e há amizade entre as pessoas.
A mãe desta menina mágica, que se chama Natacha, comprou umas prendinhas, e fez umas roupinhas lindíssimas para um bebé chamado Dioguinho que é filho da sua vizinha, Lúcia.
Diana sabe que vai visitá-lo e está em pulgas. A mãe pergunta:
– Diana…estás pronta?
        A Diana responde contente, a sorrir:
– Sim, Mamã!
        Natacha responde:
– Vamos então!
Diana dá a mão á mãe e vai a saltitar, feliz.
Pelo caminho está um casal de namorados e discutir, a Natacha acelera o passo porque não quer que a filha oiça.
Diana pede à mãe que espere um bocadinho:
– Espera, Mamã…porque é que eles estão zangados?
        Natacha responde para despachar:  
– Não sei, nem quero saber! É problemas deles…vamos embora.
Diana não fica satisfeita e com um grande à vontade pergunta-lhes directamente:
– Óh totós…porque é que estão a discutir?!
        O rapaz responde chateado:
– Olha a pirralha!
        Natacha resmunga:
– Vê lá como falas com a minha filha…se estás de trombas, ela não tem nada a ver com isso!
Diana mexe nos cabelos e diz:  
– Vocês não são namorados?
        Os dois respondem em coro:
– Sim…
Diana mexe outra vez nos cabelos e comenta:
– Não parece nada! (p.c) E amam-se?
        O rapaz goza de fininho:
– Olha-me esta…parece um padre…
        A rapariga sorri deliciada e diz:
– Tão linda!
        Mas respondem em coro:
– Sim. Amamo-nos!
Diana mexe outra vez nos cabelos e volta a dar a sua opinião:
– Não parece nada!
        O casal pergunta em coro:
– Porquê?
Diana mexe nos cabelos e explica:
– Porque estão a discutir um com o outro…se se amassem não estavam a discutir um com o outro.
A mãe ri e murmura:
– (a rir) Santa inocência.
        O rapaz não acha piada e resmunga com a pequena:
– Cala – te pimpolha…não percebes nada.
        Natacha ri-se e diz:
– Olha, falou o roto do esfarrapado! (ri-se)
        A rapariga explica:
– Por estarmos mais zangados um com o outro, não quer dizer que não nos amemos!
        Diana mexe nos cabelos e diz:
– Nunca outra vi…! A mim os meus Avós sempre me disseram que quando se ama alguém não se trata mal…
        O rapaz responde:
– Eu não estou a tratar mal ninguém!
        A rapariga acrescenta:
– A verdade é que também não me estás a tratar bem. Mas ele só está a falar mais alto comigo, fofinha.
        O rapaz quase que destrói toda a inocência da criança quando lhe diz:
– Os teus avós mentiram-te…porque qualquer casal discute e amam-se!
        Mas Diana não se deixa ficar, e responde:
– Só se foi o teu avô que te mentiu, porque o meu Avô nunca me mente.
        A rapariga sorri e comenta:
– Para que é que lhe estás a dizer essas coisas? Olha a idade dela…achas que ela percebe alguma coisa de relações? (p.c) Para ela é tudo cor-de-rosa! Como era para mim…e como era para ti na idade dela. Até conhecer a triste realidade.
        O rapaz não assume que também era assim na idade de Diana e responde:
– Eu na idade dela queria lá saber de relações…! Queria era bola e carrinhos. Nunca vi nada cor-de-rosa, nem vermelho…nem de outra cor qualquer…!
        A mãe ordena à Diana:
– Vamos embora…Diana!
        Diana não gostou do que viu e diz:
– Eu não saio daqui enquanto eles não fizerem as pazes e enquanto não derem um abraço…ou um beijinho…!
        A mãe ri-se e diz:
– Querida…não te metas…deixa-os lá. Eles que se entendam e é se querem. Se não se entenderem é problema deles.
A pequena mexe outra vez nos cabelos e ouve-se uma música suave. Ela olha para o casal. O casal sorri deliciado, pedem desculpa um ao outro, dão um abraço e um beijinho…a Diana sorri deliciada. A mãe fica intrigada e sorri também.
Natacha insiste:
– Anda filha, já viste o beijinho e o abraço, eles já fizeram as pazes…vamos!
        Diana antes de ir embora responde sorridente:
– Muito bem, é assim mesmo! E se se amam mesmo, não voltem a discutir!
Todos disfarçam o riso e dizem que sim. O casal segue, de mão dada e feliz! Ouviram a música dos cabelos da Diana. A Diana segue caminho com a mãe e falam uma com a outra:
– Mamã…porque é que os adultos que são namorados discutem? (p.c) Isso não é sinal de amor pois não?
– (sorri embasbacada) Óh…óh querida, o facto de os casais discutirem, não quer dizer que não se amem! (p.c) Os adultos às vezes zangam-se…mas passa rápido… (p.c) Só não há amor quando os casais se zangam e batem uns nos outros…!
– E há casais que batem uns nos outros?
– Infelizmente sim, querida!
– Mas se não se amam e se batem um no outro para que é que estão juntos e porque é que não vai um para cada lado? (p.c) Se não gostam um do outro, nem precisam de se falar, certo?
– Claro, filha…mas eles não entendem assim!
– Se eles não sabem isso, alguém lhes devia dizer essas coisas…para não estarem juntos se não gostam um do outro não era?
– (sorri) Sim…pois era! (p.c) Mas ninguém se quer meter entre marido e mulher!
– Se andam à luta, não há quem os separe?
– Não…! Quase nunca há quem os separe.
– Porquê?! (p.c) A nós estão-nos sempre a dizer que quando vemos dois à luta, devemos separá-los e dizer-lhes para que se entendam a bem…sem se magoarem…e aos grandes não podemos fazer isso?! Eles podem magoar-se é?!
– (sorri, não sabe o que responder) S…sim…isso seria bom…mas infelizmente não acontece! As coisas não são assim tão simples!
– Porquê?
– (sorri) Quando fores grande vais perceber certas coisas! – Tu e o papá não andam à luta! Mas se andassem, eu separava-vos…! (p.c) Se isso acontecesse era sinal que não se amavam!
– (sorri) Sim, sim…!
– Toda a gente diz que quando se ama, não se magoa…mas isso não acontece pois não mamã?
– Acontece em alguns casais, noutros não!
– Porquê Mamã?
– Não sei…! (p.c) Porque…há gente má…!
– Mas se há gente má, devia ficar sozinha!
– Sim, tens razão…no meio do mato…das silvas…
– E porque é que há gente que se aproxima desses maus?!
– Não sei!
– Eu não gosto de gente má…nem me aproximo dela…não consigo perceber porque é que há quem se aproxime…
– Também não sei Diana! (p.c) Chegamos a casa da Lúcia…já sabes…porta-te bem!
– Sim, já sei!
Lúcia está desesperada! O bebé Diogo ainda não parou de chorar, mesmo depois de várias tentativas da mãe para o calar. Natacha bate à porta. Lúcia abre a porta com o bebé ao colo a chorar. Cumprimentam-se, Diana mexe nos cabelos e o Dioguinho começa a serenar. Lúcia convida para entrar:
– Entrem…Olá Diana querida…Olá Natacha…
        Natacha fica encantada com o bebé e elogia:
– (sorridente) Que coisa tão linda! (p.c) Parabéns…como estás?
Enquanto as mães falam, Diana mexe nos cabelos e ouve-se uma música suave…o bebé fica embalado com a música, pára de chorar, fica de olho aberto, a Diana brinca com os caracóis dos cabelos e o bebé adormece.
A Lúcia respira de alívio e diz:
– Finalmente adormeceu! Só chorava…fiz tudo e mais alguma coisa, e não se calava! (p.c) Vou deitá-lo. (p.c) Sentem-se! (p.c) Querem alguma coisa?
        Mãe e filha respondem em coro:
– Não, obrigada!
As duas mães conversam, o bebé dorme. De repente passa uma rapariga muito triste, solitária pela janela. Diana espreita e cumprimenta-a.
– Olá!
        A rapariga cumprimenta e começa a desabafar:
– (triste) Olá! (p.c) Quem me dera ser do teu tamanho e da tua idade!
– Porquê?
– (triste) Assim não tinha que ver os meus pais chateados!
– Não lhes ligues…se eles se amam mesmo, vão fazer as pazes!
– Para ti é tudo muito fácil e muito bonito!
Diana mexe nos cabelos. A rapariga consegue ouvir a música. Fica deliciada e comenta, as duas continuam a falar uma com a outra:
– Tu…és uma boneca que falas?
– Eu…? Não…não sou nenhuma boneca…sou de carne e osso. Porquê? Tenho muitas bonecas e elas não são iguais a mim.
– Tu…dás música…! Eu estou a ouvir música muito perto…só pode vir de ti.
– O quê? Eu não dou música…não sou nenhuma boneca para dar música, nem nenhum instrumento musical…também não toco nada…nem tenho nenhum rádio.
A rapariga aproxima-se mais de Diana, a Diana mexe nos cabelos e a música soa suavemente…a rapariga fica contagiada pela música alegre que ouve e dança contente.
Diana solta uma grande exclamação, não está a perceber nada do que está a acontecer com a rapariga:  
– Ááááhhh…! Coitadinha…a rapariga está…a sonhar…eu não ouço música nenhuma.
– (sorridente) Tens uma música muito fixe. Anda dançar comigo!
– Como é que eu vou dançar contigo, se não ouço nada…? Estou a ver-te dançar e está-me a apetecer dançar também!
A Diana e a rapariga dançam alegremente, e a música sai á medida que ela mexe com os cabelos. Passam dois meninos de rua, e dançam também, contentes. O rapazinho a rir diz:
– Que música fixe!
        A rapariguinha concorda e acrescenta a rir: 
– Olha, não queres vir connosco, para nos ajudar a ganhar dinheiro?
        O rapazinho sorri com a ideia, concorda e reforça o pedido:
– Sim…nós dormimos na rua, os nossos pais figuram…e vamos tendo o que comer e o que vestir, porque há pessoas boas que têm pena de nós e dão-nos o que já não precisam!
         A rapariga partilha a sua opinião:
– Olhem…era uma excelente ideia! Eu alinho convosco…danço…
        O rapazinho e a rapariguinha sorriem e dizem em coro:
– Está bem! Obrigada!
        Diana não ouve a música que eles ouvem por isso diz:
– Hum…mas o que é se passa aqui?! Estou surda…?! Toda a gente ouve música, menos eu?! Não percebo nada.
        A rapariga tenta explicar:
– Mas…a música vem dos teus cabelos…
        Diana pensa alto:
– Esta deve estar maluquinha…coitadinha! Os cabelos não dão música…nem tem música…
        O rapazinho pergunta ansioso:
– Mas…podes ajudar-nos ou não?
        Diana fica com pena deles, e embora não saiba o que fazer para os ajudar responde:  
– Aaaaaahh…está bem…mas não sei como…!
        A rapariguinha apresenta uma solução:
– Basta pores a música a tocar…e dançamos!
        Diana continua sem perceber e questiona-se:  
– Mas…que música?
        Todos respondem em coro:
– A tua música!
        Diana repete:
– Mas, eu não canto…nem tenho rádio!
        A rapariga relembra:
– Mas tens uma música muito bonita!
        Diana não percebe nada e comenta:
– Que coisa tão estranha…eu não ouço música nenhuma!
        Todos respondem em coro:  
– Mas tu tens música!
        Diana confessa:
– Não percebo nada!
        A rapariguinha dá a entender que não está preocupada com isso, quer é a presença de Diana, e diz-lhe:
– Óh…! Anda connosco…e danças connosco está bem?
        Diana aceita o convite e avisa a mãe:
– Está bem… (p.c) Mamã…eu já venho!
        A mãe avisa-a:
– Está bem…não vás para longe!
        Diana tranquiliza a mãe dizendo-lhe:
– Está bem! Já volto…
A Diana vai com os meninos e pelo caminho…mexe no cabelo.
Sempre que mexe no cabelo…dá música…e as pessoas que a ouvem dançam também, aplaudem e dão dinheiro aos meninos de rua.
Eles estão felizes.
Passam duas avozinhas (a1; a2) de braço dado, olham para as crianças deliciadas e com um grande sorriso, e falam uma com a outra: 
– Ai, que coisa tão querida!
– Tão graciosas…parecem umas bonequinhas…bailarinas…!
- Onde estão os pais delas?
- Não sei!
- Será que são todos irmãos…?
- Pode ser…!
- Possivelmente estarão a pedir…!
- Coitadinhas…! Isso é maldade com as crianças…
- Pode ser mesmo por necessidade! Para ajudar os pais.
- Ou serão alunos da escola de teatro, ou de bale aqui perto…e estão a apresentar algum trabalho!  
– (sorridente) A música que elas tocam…maravilhosa…embala-nos…! – Que música…?!
– A música deles…!
– Não ouço música nenhuma. Ui será que estou a ouvir mal?
– (sorridente) Na imaginação delas está a tocar uma música…e pelo que parece é muito bonita!
– Ááááhhh…sim…e na tua também!
– (sorridente e entusiasmada) Eu estou a ouvi-la e vou dançar com eles…anda também!
– Se eu não ouço música, vou dançar o quê, e como?
– (sorri) Danças como eles…! (p.c) O teu coração vai ouvir a música delas e tu naturalmente vais dançar ao som dela…! (p.c) Mesmo que a tua música não seja a delas…dança como elas…! (p.c) Eu consigo ouvir a música deles…e o meu coração reconheceu-a…por isso estou a dançar como elas!
– (sorri) E como é que sabes que o teu coração reconheceu a música e está a ouvir a música deles?
– (sorri) Porque estou feliz! (p.c) Experimenta também, ouvir a música deles! (p.c) Se te sentires feliz ao dançar…é sinal que a música foi reconhecida! (p.c) Mesmo que a música não seja a mesma que a tua! (p.c) Deves conseguir ouvi-la! (p.c) Segue o ritmo deles! E diverte-te.
E com a alegria das crianças…toda a gente dança e até as avozinhas conseguiram ouvir a música…o seu coração reconheceu-a!
Toda a gente que passa fica encantada e contagiada com a música dos cabelos da Diana, e até os adultos dançam com elas, dão-lhes bastante dinheiro e divertem-se muito.
Ao fim de algum tempo, Diana volta para a mãe feliz por ter ajudado os meninos de rua a ganhar dinheiro, com a promessa de voltar a ajudá-los nos próximos tempos.

Adultos: não desliguem as músicas mágicas que ressoam do vosso coração de crianças…! Principalmente em momentos de tristeza, desespero ou aflição. Mesmo que não saibam cantar nem dançar.


                                                Lálá







(29/Abril/2011)
A lição do domador

Era uma vez um circo, cheio de figuras que toda a gente conhece: palhacinhos, bailarinas, trapezistas, animais amestrados, e muitos outros. De entre os palhacinhos trapezistas. Há um que é muito medroso, e todos o gozam por isso.
Certo dia, num ensaio, todos os trapezistas que sobem às cordas desafiaram o palhacinho medroso a subir e a andar nas cordas e baloiços suspensos. Eles desafiaram, mas o palhacinho interpretou isso como uma provocação. Farto de ser gozado e apesar do seu medo, o palhacinho subiu as escadas para provar que era capaz.
Começaram todos a gozar com ele, mas os amigos respondem às provocações para defender o palhacinho:
T1 – Olhem, olhem…áh, áh, áh…
P.M. (nervoso) – Ai…que medo…! Ainda por cima eles a rirem-se…não vou conseguir…!
P1 – Onde é que está a piada…?
T2 – Áh, áh, áh…vai – se esborrachar todo…!
P.M. (nervoso) – O pior é que eu acho que vou mesmo esborrachar-me todo!
P2 – Calem-se, se não daqui a pouco quem vos esborracha somos nós!
P.M. – Boa…obrigado amigos…
TRAPEZISTAS (gargalhadas) – Uuiii…que medo…! Áh, áh, áh…!
P3 – Vai…força…!
P4 – Isso não cai.  
T3 – Áh, áh, áh…já está todo cagado! 
T4 – Áh, áh, áh…até me cheira mal!
P5 – Calem-se estúpidos…!
T5 – Áh, áh, áh…parece uma vara verde!
P6 – Daqui a pouco vocês é que levam com uma vara…palermas.
P1 – Atira-te…
P2 – Podes confiar em nós…vai!
P3 – Tu és capaz!
P.M. (nervoso, com medo) – Ai…ai, ai, ai…eu não sou capaz…! Isto é tão alto…
P4 – Não olhes para baixo…! Olha para a frente.
T1 – Olhem, olhem…áh, áh, áh…não sai dali nem amanhã…
T2 – Precisas de um empurrãozinho óh cromo…?
T3 – Áh, áh, áh…
P5 – Vocês vão ver o empurrãozinho…onde vão parar…!
P6 – Avança amigo…tens a rede por baixo…!
P6 – Vai rapaz…!
P1 – Cala estes abortos…
P.M. (grita) – Não consigo!
TRAPEZISTAS (a rir) – Ááááhhh…
T1 (a rir) – Que novidade…
T2 (a rir) – Só atingiste agora…?!
T3 (a rir) – Além de cagarolas é burro…coitado…
P.M (nervoso) – Estúpidos.
PALHAÇOS (gritam) – Claro que consegues!
P.M. – Venham também cá para cima!
         Os palhaços sobem para as escadas, e estas abanam. O palhacinho grita assustado:
P.M. – Aaaaaahh…isto está a tremer tanto…!
P4 – Claro que está a tremer, nós estamos a subir...mas não tenhas medo, isto não cai.
P.M – Aaaaaiiii….que isto vai-se desprender e vamos todos parar ao chão…!
PALHAÇOS – Não vai nada!
P6 – Avança.
P2 – Vai, nós estamos contigo.
T2 – Olhem…vai ser ainda mais giro agora…
T4 (a rir) – Pois…agora vamos ver uma série deles a esborrachar-se…! Que fixe…
T3 (a rir) – Já estou mesmo a ver…vai ser como tordos a cair…pa, pa, pa…
(todos riem)
         O palhacinho medroso, muito assustado e nervoso atira-se e cai na rede aos gritos e diz:
P.M. – Gosto muito de vocês, amigos…gostei muito de vos conhecer…! Ááááááhhhh…
Os palhacinhos ficam assustados, gritam com ele, preocupados, mas no fim olham para o amigo e batem-lhe palmas a sorrir, e elogiam o amigo:
PALHAÇOS (sorriem) – Boa!
P1 – Vês como conseguiste?!
P2 – Nós dissemos que podias avançar.
P3 – Sim, e também dissemos que estávamos contigo!
P4 – Muito bem, provaste àqueles totós que és capaz.
P.M. – Ai, que vergonha…!
Os outros trapezistas desatam a rir e gozam:
T1 – Que cromo…!
T2 – Que jeitinho…
T3 (a rir) – Parecia um mariquinhas…
T4 – Olhem se saltássemos como ele! Que vergonha.
T5 – Despediam-nos logo.
T6 – Sai daí óh troglodita…já que não sabes saltar, sai daí e deixa-nos trabalhar.
P1 – Calem-se carrapatos…ogres…sapos ranhosos…
P2 – Vamos fazer queixa de vocês…
TRAPEZISTAS – Áh, áh, áh…
T1 – Que medo…!
P3 – Vocês também só sabem fazer isto…que limitação. Nós e o nosso amigo sabemos muitas mais coisas que vocês.
TRAPEZISTAS (a rir) – Áh, áh, áh…!
T2 – Que grande vantagem saber mais coisas…nós também sabemos.
P6 – Sabem muita estupidez, agora coisas de jeito…e boas…não sabem!  
T3 – Não sei como te contrataram…não tens jeito para nada.
PALHAÇOS (gritam) – Calem-se parvalhões! 
P5 – Alguma vez se viram ao espelho…óh ridículos…?
TRAPEZISTAS – Sim, muitas vezes…
T4 – Porquê?
P5 – Não parece…não valem nada.
P4 – Vão ter o que merecem, e não tarda muito.
T6 (a rir) – Olha os franganotes a ameaçar…
TRAPEZISTAS (a rir) – Áh, áh, áh…
T2 – Alguém ficou com medo?
TRAPEZISTAS (a rir) – Uuuuuuiiii….muito!
T5 – Aquele idiotinha a saltar até podia ser uma inovação aqui no circo…!
TRAPEZISTAS (a rir) – Sim, pois era…
T2 – Bem pensado!
T3 – Toda a gente se ria.
P2 – Acham que toda a gente é cabeça vazia como vocês…?
P6 – Coitados, acham-se o máximo!
P4 – Fiquem sabendo que é a variedade do circo que lhe dá piada!
P5 – Realmente…já viram se fizessem todos o mesmo…que coisa feia…!
T4 – Que monotonia…se fossemos todos palhaços…
T1 – Era uma concorrência muito directa…
T6 – Pois…ninguém reparava em nós…!
P1 – Vocês já são uns palhaços idiotas! Nem precisam de se mascarar…!
         Envolvem-se todos numa grande discussão, aos gritos, ao mesmo tempo uns contra os outros, há alguns encontrões, e puxões de cabelos, umas sapatadas, até que chega o domador de leões, assobia, e todos se calam.
D – O que é isto?
TODOS – O quê?
D – Estes gritos todos!
P.M. – Estes imbecis estavam a gozar-me, e agora estavam metidos a bons…!
P2 – Há gente estúpida que se aproveita da bondade dos outros para que reparem nelas…como estes cabeças de vento.
D – Sim, infelizmente tens toda a razão. Mas…a gozar de quê?
P.M. – Por eu ter medo de subir às cordas e aos baloiços…eu subi…e gozaram-me por eu estar a tremer…começaram a mandar piadinhas e a insultar-me, para me enervar e para que eu não saltasse.
T1 (a rir) – Subiu, mas parecia uma vara verde, atirou-se aos gritos…! Caiu na rede. Não foi capaz…! Coitado…
TRAPEZISTAS – Daaahhh…
T2 – Nem sei como é que os contrataram…!
D – Olhem só os corajosos…! E vocês não têm medo de nada, querem ver?
TRAPEZISTAS – Não.
D – Naaaaa…. Quem fala nisso…! Nem dos meus bebés…!?
TRAPEZISTAS (a tremer, disfarçam com o riso) – Naaaaa… (riem nervosos) nem desses!
T2 – E logo desses…felpudos…dentarrudos…meigos! Naaaaa…!
D – Claro…eu acredito mesmo!
         Ele assobia e aparece um leão no palco. Os trapezistas desatam todos a correr assustados, até se empurram a subir as escadas e atiram-se para a rede aos gritos. Os palhaços riem, e o domador acaricia o leão a rir.
D – Com que então…não tem medo…
TRAPEZISTAS – Naaaaa… (a tremer)
D (a rir) – De nada…!
TRAPEZISTAS (a tremer agarrados uns aos outros) – De nada…!
 D (a rir) – Claro que não tem medo de nada…! Foi por isso que desataram a fugir por aí acima…e…não saem da rede! (p.c) E é por isso que estavam a gozar o palhacinho…por ele ter medo das alturas…!
TRAPEZISTAS – Pois… (nervosos) Ahhh…
T1 – É que…as alturas não metem medo a ninguém…os amigos dele também tem medo.
D – E vocês?! Não tem medo de alturas, mas têm medo por exemplo dos meus bebés…certo?!
TRAPEZISTAS (nervosos, a rir) – Naaaaa…!
D (a rir) – E se…agora…eu vos obrigasse a brincar com os meus bebés…e vos gozasse…como vocês estavam a fazer com o palhacinho?
T2 – Eras muito mauzinho…!
T3 (a rir, nervoso) – Mas também…não eras capaz de fazer isso com os teus amiguinhos pois não…?
D – Eu…era mauzinho…? (ri) Claro que fazia isso com os meus…amiguinhos… (ri) Naaa…eu estava só a desafiar-vos…já que são tão corajosos…
T4 – Nós… (a rir) Só estávamos a…a…tentar que o palhaço perdesse o medo das alturas…! Não era meninos…?
TRAPEZISTAS – Aaaa…ss…sim…, sim, claro…
T6 – Ele é nosso amigo…nós…preocupamo-nos com ele…!
PALHAÇOS – Mentirosos!
P.M. – Cínicos…falsos…hipócritas…queriam usar o meu medo para um novo numero de circo…para toda a gente se rir de mim…e gozar… para divertir quem via.
PALHAÇOS – Pois era.
D – Pois…! Tão queridos…! Tão bonzinhos que vocês são não é…?!
TRAPEZISTAS (a rir nervosos) – Sim…somos.
D – Pois…! Até fico emocionado com a vossa bondade! (p.c) Ora…subam outra vez para as escadas! Eu rio-me cá de baixo! Ou ponho-vos a brincar com os meus bebés…?! Escolham…!
TRAPAZISTAS – Então...
T1 – Nem uma coisa…nem outra…!
D – Porquê?
T2 – Porque tu vais gozar-nos!
D – Eu…?! Gozar-vos…? Naaa…nem sei o que é isso!
T3 – Vá lá…arruma lá esse teu…bebé…
D (irónico) – Mas…coitadinho…estão a mandá-lo embora…?! (p.c) Ele vai ficar muito triste e…muito mau…!
         Os trapezistas abraçam-se e gritam a tremer na rede.
T4 – Por favor, arruma para lá esse teu monstro para sairmos da rede!
D – Então…?! Onde está a vossa coragem?! Saiam à vontade…não têm medo deles…eles também não vos vão fazer mal…! (p.c) Já viram se fossemos todos iguais…?! Não havia circo pois não?
TRAPEZISTAS – Não.
D – Então, porque é que gozam com quem é diferente…?!
         Os trapezistas não respondem, e o domador faz um aviso muito sério e zangado:
D – Oiçam bem o que vos vou dizer… (p.c) Só vou falar uma vez…! (p.c) somos todos diferentes…uns gostam de umas coisas…outros não…uns gostam doutras coisas…outros doutras…felizmente somos todos diferentes…até fisicamente! (p.c) A única coisa em que todos somos iguais é que somos pessoas…seres humanos…uns tem jeito para umas coisas, outros para outras e é isso que faz a beleza e a magia do circo! (p.c) Por isto tudo, temos que nos respeitar uns aos outros…todos temos que aceitar que somos diferentes, e ainda bem que somos! Ninguém tem que ser igual a vocês, nem a mim…mas todos têm que ser acolhidos, bem aceites e integrados na família do circo! (p.c) Já andam a gozar com este palhacinho há uns tempos…eu sei…mas já chega…! (p.c) Nem deviam ter começado…já que insistem… (p.c) Se voltam a gozar com quem quer que seja…eu…faço-vos uma que nem sabem onde vão parar…passam a ser a nova atracção do circo… (p.c) ponho-vos a fazer habilidades sabem onde…?! (p.c) Em cima dos meus bebés…ou na boca deles…de preferência quando eles estiverem esfomeados! (p.c) Entendido…?!
         Os trapezistas engolem em seco, assustados, a tremer…
T1 – Ai…não nos faças isso!
D – Peçam desculpa ao palhacinho.
TRAPEZISTAS (cheios de medo) – Desculpa!
D – Não ouvi!
TRAPEZISTAS – Desculpa…
D – Eu quero que digam isso aqui em baixo, à beira dele…de joelhos…
T4 (nervoso) – Ai, ai, ai, ai…já estás a abusar!
D – Atreves-te a falar assim comigo…?! (p.c) Vais ser o primeiro a brincar com os meus bebés…!
T3 – Mas estás-te a passar ou quê?!
D (zangado) – O quê? (pega no chicote e bate com ele no chão zangado, com força). Os dois…já aqui! (p.c) Rápido! (p.c) Aliás…todos aqui! (p.c) Seus mal-educados…eu sou da vossa família do circo…sou vosso amigo…gosto de vocês…mas não vos admito que passem dos limites…muito menos que faltem ao respeito, a mim, ou aos outros…! (p.c) Já…aqui!
T6 – Tira essa coisa daí, e nós descemos!
         Bate outra vez com o chicote no chão, o leão ruge, eles encolhem-se e desatam a fugir, o domador agarra-os, faz sinal ao leão para sair. O leão sai, e eles tremem como varas verdes, nervosos e muito assustados. O domador grita-lhes:
D – De joelhos, já…seus selvagens…macacos vádios…! (p.c) se não…o chicote vai cair nos vossos rabos…!
         Eles ajoelham-se, a tremer, cheios de medo, e pedem desculpa.
TRAPEZISTAS – Desculpa palhacinho!
T1 – Ai, que humilhação…
T2 – Nunca pensei que ia passar por isto…!
D – Coitadinhos…estou cheio de pena da vossa humilhação…seus ridículos… (p.c) E a mim…?!
T6 – Tu estás a ser muito mau!
         O domador bate outra vez com o chicote no chão, eles encolhem-se e tremem, ele grita-lhes:
D (zangado) – Lá porque andam nas alturas acham que já são superiores aos outros…?! (p.c) Não faltava mais nada…! Vamos…peçam desculpa… (p.c) Que falta de respeito…ai, os pimpolhos a levantarem as cristas… (p.c) está bonito! (p.c) Comigo não!
TRAPEZISTAS – Ai…desculpa!
D – Ai de vocês que façam outra…ai de vocês que eu saiba que andam a gozar com qualquer um de nós…da nossa família do circo, seus galos depenados… (p.c) vão para o vosso trabalho…ensaiem…e nem um pio! Ponham-se a andar!
         Os trapezistas desatam a correr, a guinchar e a tremer e vão para a sua zona de treino.
T1 – Ai, pensei que era o meu fim!
TRAPEZISTAS – Eu também.
T2 – Aquele desgraçado estragou tudo.
T3 – Agora não podemos fazer mais nada…
T4 – Áh pois não…ele vai andar em cima de nós!
TRAPEZISTAS – Pois…
T5 – Que pouca sorte a nossa!
T6 – Estava a ser tão divertido…!
TRAPEZISTAS – Pois estava!
         Enquanto estes falam uns com os outros, os palhacinhos falam divertidos com o domador.
D (a rir) – Acho e espero que aqueles tenham aprendido a lição!
PALHACINHOS – Acho que sim!
P.M. – Eu já não podia ouvi-los, sempre a gozar comigo…
D – Viste como eles ficaram cheios de medo…armam-se em fortes valentes, muito corajosos…mas no fundo são uns idiotas…debaixo daquela máscara de fortes, estão uns jovens fracos que gostam de se armar para repararem neles, e aproveitam-se dos mais educados, dos mais sensíveis, dos mais tímidos…
P.M. – Eu disse que eles ainda iam engolir um sapo. Apeteceu-me muitas vezes partir-lhes a cara…sempre que me gozaram…mas depois, acho que também tinha um bocado de medo deles…por isso nunca lhes bati….
D – Não te preocupes com o que eles dizem! Falam com dor de cotovelo! Cada um tem o seu valor! (p.c) Bem…vamos ao trabalho…que a seguir…há espectáculo.
P.M – Muito obrigado.
D (sorri) – Ora, não tens que agradecer…eu vou andar em cima deles, e eles não vão voltar a gozar contigo, prometo-te! (p.c) Até já me podias ter dito antes que eles andavam a armar-se em garanhões… (p.c) Qualquer coisa que precises de mim daqui para a frente, diz-me!
P.M. – Obrigado.
D – Até já…
PALHAÇOS (sorriem) – Até já.
P.M. (sorridente) – Obrigado amigos!
         Abraçam-se todos, sorriem, cada grupo ensaia os seus números, divertidos e à noite têm um espectáculo. A partir desse dia, os malandrecos passaram a respeitar o nosso palhacinho e até o apreciavam. A partir deste dia, a família do circo tornou-se mais unida e mais feliz.
         Grande lição que o domador deu aos fanfarrões maliciosos, que chatearam e gozaram com o humilde palhacinho medroso.

FIM!
Lálá
(8/Dezembro/2011)